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Estudo revela conexão entre renda e contaminação por antidepressivos na bacia do Alto Tietê, alertando para impactos ambientais

No âmbito da bacia do Alto Tietê, um estudo realizado por um grupo de pesquisadores identificou uma correlação entre renda e falta de saneamento básico com a concentração de antidepressivos na região. Coordenado pelo biólogo Luis Schiesari, da renomada Universidade de São Paulo (USP), o estudo abrangeu 11 municípios da região metropolitana de São Paulo, incluindo a capital, e contou com a participação de pesquisadores de instituições como a UFABC, Unesp, Unicamp e Universidade da Califórnia.

A pesquisa envolveu a análise de 53 microbacias do Alto Tietê, desde regiões de mata atlântica preservada até áreas completamente urbanizadas. Durante a coleta de dados para o projeto, Schiesari foi acompanhado pela Folha em duas bacias: Santo André, em área preservada, e Mauá, quase totalmente integrada à malha urbana.

Os resultados, compilados em um artigo científico em fase de prévia (ainda sem revisão de pares), indicam que a renda, aliada à falta de saneamento, influencia significativamente na presença de antidepressivos nas águas da bacia do Tietê. A pesquisa identificou que o tamanho populacional também tem um papel importante na concentração desses fármacos, demonstrando que quanto maior a população de uma área, maior a presença de antidepressivos.

Além disso, o estudo constatou que a maior parte das bacias com cobertura urbana continha de uma a oito moléculas diferentes de antidepressivos, com destaque para medicamentos como venlafaxina, bupropiona e sertralina. A análise das faixas de renda per capita das microbacias revelou que, em locais com alta renda e falta de saneamento básico, a contaminação por antidepressivos é mais acentuada.

Schiesari ressalta que a contaminação da bacia do Tietê pelos antidepressivos está relacionada principalmente aos descartes irregulares de esgoto, apontando que a região apresenta níveis de contaminação que estão entre os mais altos do mundo. O pesquisador alerta para os efeitos ambientais desses compostos, que podem afetar a biodiversidade da região.

Diante desse cenário, a pesquisa destaca a importância de políticas públicas e investimentos em saneamento básico para mitigar os impactos negativos dos antidepressivos na bacia do Alto Tietê. A Sabesp, responsável pelo tratamento de água e esgoto na região metropolitana, assegura que cumpre rigorosamente os padrões estabelecidos pela legislação, mas a questão da contaminação por fármacos nas águas continua sendo um desafio ambiental a ser enfrentado.

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