Repórter São Paulo – SP – Brasil

Delegado responsável por torturas durante ditadura militar morre sem ser responsabilizado pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.

Na última semana, a reinstalação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) foi marcada por uma notícia impactante: a morte do delegado da Polícia Civil de São Paulo, David dos Santos Araújo, mais conhecido como Capitão Lisboa. Aos 86 anos, o Capitão Lisboa faleceu sem ter sido responsabilizado pelos crimes cometidos durante a ditadura militar, deixando um legado de violência e impunidade.

Conhecido como um dos mais violentos torturadores do regime, Araújo era subordinado a Carlos Alberto Brilhante Ustra, o primeiro militar condenado pela prática de tortura pela Justiça em 2008. Ambos atuaram juntos no Doi-Codi, um centro de operações clandestinas em São Paulo onde eram cometidos atos de tortura e violência. O delegado aposentado da Polícia Civil chegou a ser processado pelo Ministério Público Federal (MPF) pelos atos de violência que cometeu durante esse período sombrio da história do Brasil.

O relatório da Comissão Nacional da Verdade aponta que o Capitão Lisboa esteve atuando no Doi-Codi entre abril e outubro de 1971, sendo responsabilizado por crimes de tortura, execução e desaparecimento forçado. Em 2013, quando convocado para depor na Comissão Nacional da Verdade, o policial negou veementemente as acusações feitas contra ele.

Entre as acusações que pesam sobre o delegado aposentado estão as mortes de Aylton Adalberto Mortati e Joaquim Alencar de Seixas, além da tortura do filho de Seixas, Ivan, e de outros três membros da família do militante. Mesmo após tantos anos, a memória dessas vítimas continua a ecoar na história do Brasil.

A reinstalação da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos marca um passo importante na busca pela verdade e pela justiça em relação aos crimes cometidos durante a ditadura militar. Instituída em 1995, a Comissão já analisou cerca de 300 casos de abusos e violências desse período sombrio, reconhecendo mortes e promovendo o pagamento de indenizações às famílias das vítimas. Agora, sob os esforços do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania e o Governo Federal, espera-se que a Comissão possa continuar sua importante missão de resgatar a memória e a justiça para aqueles que foram vítimas da violência do Estado.

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