Repórter São Paulo – SP – Brasil

Sônia Pavão: a mestra guarani que transforma a mata em farmácia e a universidade em casa de reza.

Sônia Pavão é uma indígena guarani que vive na reserva Tapyi Kora, conhecida como Limão Verde, no Mato Grosso do Sul. Para ela, sua farmácia não consiste em uma loja na cidade, mas sim na própria natureza ao redor de sua casa. Ali, Sônia coleta plantas do cerrado com propriedades medicinais para tratar diversos males, seguindo os ensinamentos tradicionais de seu povo.

Essa ligação com a natureza e com as práticas medicinais tradicionais não veio por acaso. Órfã aos 4 anos de idade após a morte de seus pais, Sônia enfrentou desafios na infância, mas sua determinação a levou a se formar em ciências da natureza pela Faculdade Intercultural Indígena da Universidade Federal da Grande Dourados. Nessa jornada acadêmica, decidiu unir seus conhecimentos tradicionais com a pesquisa acadêmica, resultando em um mestrado que abordou os saberes dos guarani e kaiowá como fonte de autonomia, sustentabilidade e resistência.

A experiência de Sônia na universidade não é isolada, pois a UFGD se destaca por sua proposta intercultural e inclusiva. Localizada no campus principal, a Faculdade Intercultural Indígena (Faind) oferece cursos voltados especialmente para a formação de professores indígenas, como o teko arandu, que completou 18 anos e foi o embrião da criação da Faind. Outros cursos e programas de pós-graduação na universidade também acolhem estudantes indígenas, totalizando cerca de 800 alunos matriculados.

Essa presença indígena na UFGD proporciona uma troca de conhecimentos enriquecedora para a comunidade acadêmica. O reitor da instituição destaca a importância de reconhecer e valorizar os saberes tradicionais indígenas, trazendo uma perspectiva diferente para a ciência acadêmica. Além disso, as instalações e o calendário acadêmico da Faind são adaptados para atender as necessidades dos estudantes, promovendo uma modalidade de ensino baseada na pedagogia da alternância.

Além disso, a UFGD se destaca no cenário internacional, com três alunos indígenas de doutorado selecionados para um intercâmbio de seis meses na França. Esse projeto, realizado pela embaixada francesa no Brasil, proporciona uma experiência única para os estudantes indígenas, ao mesmo tempo em que aumenta a visibilidade e legitimidade de suas culturas e reivindicações.

Portanto, a união entre conhecimentos tradicionais indígenas e a pesquisa acadêmica na UFGD demonstra como a educação pode ser inclusiva, diversificada e transformadora. Essa interação entre diferentes saberes e culturas enriquece não só a universidade, mas toda a sociedade.

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