Velórios e lutos: reflexões sobre a presença e ausência nos ritos de passagem e como lidamos com as perdas.

Recentemente, tive a oportunidade de comparecer a um velório que me fez refletir sobre a presença e a importância dos rituais de despedida em nossas vidas. Ao chegar ao local, percebi que não encontrei as pessoas que esperava e, ao informar amigos sobre o ocorrido, descobri que muitos ainda não tinham conhecimento da triste notícia.

As cerimônias fúnebres sempre nos levam a pensar sobre a nossa própria morte e sobre como gostaríamos que fosse nosso velório. Mas ultimamente tenho me questionado mais sobre o papel que desempenhamos nos velórios de outras pessoas. Quais são os velórios que consideramos imperdíveis? Quais são aqueles para os quais não podemos deixar de comparecer?

A pandemia alterou profundamente a forma como nos despedimos dos entes queridos, privando-nos de ritos que nos permitem conforto, abraços e lembranças que amenizam a dor da perda. Esse momento peculiar da história humana ficou conhecido para mim como a “Antígona moderna”, em referência à tragédia grega em que Antígona desafia o rei Creonte para realizar os ritos fúnebres do irmão.

A impossibilidade de velar nossos mortos durante a pandemia evidenciou a importância dos rituais de passagem e do apoio emocional que proporcionam. À medida que a situação se normaliza, surge a questão: seremos capazes de abraçar essas oportunidades de despedida com a mesma intensidade de antes?

A arquitetura das grandes cidades, muitas vezes afastando os cemitérios do centro, reflete nossa tentativa de evitar lidar com a finitude. Em contraste, em outros países como a Alemanha, os convites para as cerimônias funerárias são enviados, permitindo que mais pessoas tenham a oportunidade de se despedir.

A duração dos velórios também mudou ao longo do tempo, passando de noites inteiras para apenas algumas horas. No entanto, a reverência pelas perdas e a solidariedade com os enlutados permanecem presentes, como no gesto de enviar mensagens de apoio e coroas de flores.

Os questionamentos sobre nossos próprios rituais de despedida e sobre quem estaria presente em nosso velório revelam a complexidade e a importância dos laços afetivos e da reciprocidade nos momentos de luto. A presença e o apoio das pessoas queridas tornam-se essenciais, fortalecendo a rede de suporte em momentos de vulnerabilidade.

Assim, refletir sobre nossos rituais de despedida e sobre o carinho e apoio que recebemos e oferecemos nos momentos de luto nos convida a valorizar as relações e os afetos, que são um apoio fundamental nos momentos mais difíceis de nossas vidas.

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