Recentemente, no Rio de Janeiro, o líder de uma facção criminosa ordenou o fechamento de igrejas católicas em uma região conhecida como Complexo de Israel. Segundo relatos de moradores, o traficante em questão é evangélico. Essa situação me remete imediatamente aos cultos que presenciei na década de 1990, quando a conversão religiosa significava a transição de traficante a ex-traficante. No entanto, nos dias atuais, apesar de ainda estar envolvido com o crime, a pessoa se autointitula evangélica.
Essa conexão entre a fé evangélica e o tráfico tem sido objeto de estudo por diversos pesquisadores, como Christina Vital e Viviane Costa, que exploram o fenômeno narcorreligioso na capital fluminense. A questão, no entanto, vai além do campo acadêmico e se estende ao âmbito pastoral. Como é possível conciliar a presença em uma igreja com a prática do tráfico de drogas?
A diversidade de crenças e escolhas individuais é um aspecto relevante a considerar. Enquanto algumas pessoas optam por seguir a moralidade pregada pelas igrejas evangélicas, outras parecem não encontrar contradição em manter vínculos com o tráfico. Esse fenômeno desafia a percepção predominante no meio evangélico, que geralmente associa a prática do crime à incompatibilidade com os valores religiosos.
O crescimento acelerado do segmento evangélico na sociedade brasileira reflete não apenas um movimento de conversão, mas também de adesão. A noção de conversão como uma mudança de vida significativa é fundamental nesse contexto, e a expectativa de que um traficante que se declara evangélico tenha abandonado suas atividades criminosas é um ponto crucial para muitos fiéis.
Apesar de possíveis impactos negativos na imagem pública do segmento evangélico, a repercussão desses casos nos círculos religiosos tende a ser limitada. A falta de controle sobre quem se autointitula evangélico revela uma fragilidade no sistema de acompanhamento e fiscalização das práticas religiosas. No final das contas, a conversão a um novo modo de vida é mais relevante do que a mera adesão a um grupo social, mostrando a importância de manter a ética e os valores como pilares fundamentais da religião.