Ao investigar uma extensa quantidade de boletins de ocorrência da polícia paulista, o estudo comparou casos idênticos em termos de quantidade, tipo e local de apreensão de entorpecentes, levando em consideração características como idade, sexo e nível de escolaridade dos envolvidos. A única diferença relevante encontrada nos casos examinados foi a cor ou raça declarada pelos indivíduos – branca, preta ou parda. Os resultados revelaram que, mesmo em situações idênticas, pessoas negras possuíam uma maior probabilidade de serem categorizadas como traficantes, em vez de usuárias.
Para o pesquisador Daniel Duque, do Núcleo de Estudos Raciais do Insper, a discrepância racial encontrada nos casos analisados é alarmante e aponta para a existência de um viés racial evidente nas abordagens policiais. Ele ressaltou que a maioria dessas discrepâncias foi observada em ocorrências envolvendo drogas leves, como a maconha, e em quantidades pequenas.
Diante dessas constatações, Duque sugere que a definição de uma quantidade específica para distinguir usuários de traficantes pode ser uma medida eficaz para reduzir a discriminação racial. No entanto, ele destaca a importância de outras políticas públicas e ações sociais para combater o racismo estrutural que permeia as instituições e a sociedade como um todo.
Nesse sentido, a pesquisa do Insper levanta importantes questões sobre a necessidade de uma revisão nas práticas policiais e na abordagem de casos envolvendo drogas, visando uma maior equidade e justiça no tratamento dos cidadãos, independentemente de sua cor ou raça. A reflexão sobre essas questões é essencial para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária para todos os seus membros.