Estudo do Insper revela viés racial na abordagem policial em São Paulo: negros são mais enquadrados como traficantes do que brancos.

Um estudo recente realizado pelo Núcleo de Estudos Raciais do Insper trouxe à tona dados alarmantes sobre o viés racial presente nas abordagens policiais em São Paulo. De acordo com a pesquisa, que analisou um período de 10 anos compreendido entre 2010 e 2020, cerca de 31 mil negros foram enquadrados pela polícia como traficantes em situações semelhantes às que brancos foram considerados apenas usuários de drogas.

Ao investigar uma extensa quantidade de boletins de ocorrência da polícia paulista, o estudo comparou casos idênticos em termos de quantidade, tipo e local de apreensão de entorpecentes, levando em consideração características como idade, sexo e nível de escolaridade dos envolvidos. A única diferença relevante encontrada nos casos examinados foi a cor ou raça declarada pelos indivíduos – branca, preta ou parda. Os resultados revelaram que, mesmo em situações idênticas, pessoas negras possuíam uma maior probabilidade de serem categorizadas como traficantes, em vez de usuárias.

Para o pesquisador Daniel Duque, do Núcleo de Estudos Raciais do Insper, a discrepância racial encontrada nos casos analisados é alarmante e aponta para a existência de um viés racial evidente nas abordagens policiais. Ele ressaltou que a maioria dessas discrepâncias foi observada em ocorrências envolvendo drogas leves, como a maconha, e em quantidades pequenas.

Diante dessas constatações, Duque sugere que a definição de uma quantidade específica para distinguir usuários de traficantes pode ser uma medida eficaz para reduzir a discriminação racial. No entanto, ele destaca a importância de outras políticas públicas e ações sociais para combater o racismo estrutural que permeia as instituições e a sociedade como um todo.

Nesse sentido, a pesquisa do Insper levanta importantes questões sobre a necessidade de uma revisão nas práticas policiais e na abordagem de casos envolvendo drogas, visando uma maior equidade e justiça no tratamento dos cidadãos, independentemente de sua cor ou raça. A reflexão sobre essas questões é essencial para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária para todos os seus membros.

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