Fotos de crianças brasileiras são usadas para criar IA sem autorização, aponta relatório da Human Rights Watch.

Uma preocupante denúncia foi feita pela ONG Human Rights Watch em um relatório divulgado nesta segunda-feira (10). Segundo a análise feita pela organização, fotos de crianças e adolescentes brasileiros estão sendo utilizadas para criar ferramentas de inteligência artificial sem o conhecimento ou consentimento dos mesmos.

O LAION-5B, um conjunto de dados usado para treinar populares ferramentas de IA, foi construído a partir da raspagem de informações da internet e contém links para fotos identificáveis de crianças, além de disponibilizar os nomes de algumas delas nas legendas ou URLs das imagens. A investigação revelou que, em muitos casos, as identidades das crianças são rastreáveis, com informações detalhadas sobre quando e onde as fotos foram tiradas.

Entre os exemplos encontrados, uma foto modificada mostrava uma menina de dois anos com sua irmã recém-nascida, com detalhes como o nome das crianças, a localização do hospital e a data do nascimento da bebê. No total, foram identificadas 170 fotos de crianças de dez estados brasileiros, e a organização ressaltou que esse número é apenas uma pequena amostra do problema, já que o LAION-5B contém bilhões de imagens e legendas.

As imagens mostram desde bebês recém-nascidos até adolescentes em diferentes situações, como comemorando o Carnaval ou soprando velas em um bolo. A pesquisadora Hye Jung Han, que liderou a investigação, decidiu analisar as plataformas de IA após descobrir que mais de 80 jovens foram vítimas de assédio sexual por terem suas fotos modificadas na deepfake por colegas de escola.

A ONG alerta para os perigos desse tipo de uso das imagens, incluindo vazamento de informações privadas e a reprodução de cópias idênticas das imagens treinadas nos modelos de IA. Além disso, a criação de clones convincentes de crianças com base em uma ou mais fotos também é uma ameaça real.

Diante dessa preocupante situação, a pesquisadora ressalta a importância de uma legislação que proteja a privacidade e os dados das crianças, além de medidas que garantam que casos de uso inadequado de imagens sejam punidos. O Conanda já publicou uma resolução sugerindo a criação de uma política nacional para proteger os direitos das crianças e adolescentes no ambiente digital, e a Human Rights Watch destaca a necessidade de cumprimento dessa resolução pelo governo.

Em resumo, a proteção das crianças no ambiente digital deve ser uma responsabilidade compartilhada entre o governo, as empresas e a sociedade. Nenhuma família, criança ou adolescente deveria ser responsabilizado por evitar o uso indevido de suas imagens e informações online, e é fundamental que sejam estabelecidas medidas eficazes para garantir a segurança e privacidade desses indivíduos.

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