Estação 14 Bis do metrô de São Paulo revive polêmica ao revelar vestígios de um passado quilombola em escavações no Bixiga.

A construção da estação 14 Bis da linha 6-Laranja do metrô, localizada no terreno da antiga quadra da escola Vai-Vai, no bairro do Bixiga, tem gerado controvérsias devido à descoberta de um grande acervo arqueológico durante as escavações realizadas pela empresa A Lasca, contratada pela concessionária do projeto, a Linha Uni.

Representantes do Movimento Mobiliza Saracura Vai-Vai acreditam que os vestígios encontrados remontam a um passado quilombola, associado à prática do candomblé, enquanto a empresa responsável pelo serviço nega qualquer confusão nesse sentido e afirma estar ouvindo líderes religiosos para esclarecer as dúvidas.

A questão central do debate entre o movimento e a empresa é a interpretação do sítio arqueológico sob a perspectiva da arqueologia negra e decolonial, que reconhece a existência de um quilombo urbano na região. O advogado Rafael Funari, que lidera o grupo jurídico do Movimento Saracura Vai-Vai, destaca a importância de valorizar materiais religiosos em oposição à visão eurocêntrica da arqueologia tradicional.

Desde a descoberta dos primeiros vestígios em abril de 2022, foram encontradas mais de 17 mil peças, incluindo solas de sapato, peças de cerâmica, cachimbos, garrafas de vidro, louças domésticas, toras de madeira e até uma possível representação do orixá Exu. Mãe Jennifer, do terreiro Ilê Asé Ya Osun, contribui com seu conhecimento para a interpretação dos achados.

Além disso, o movimento Saracura Vai-Vai utiliza registros históricos, como uma ata da Câmara Municipal de 1824, e relatos jornalísticos de 1907 para reforçar a tese da existência de um quilombo na região. A dispensa de estudos complementares pelo Iphan em 2020 é criticada pelo movimento, que reivindica a criação de um memorial na estação e uma quadra definitiva para a escola Vai-Vai.

Diante das divergências e reivindicações do movimento, a polêmica em torno da estação 14 Bis continua a mobilizar a comunidade local e especialistas em arqueologia e patrimônio histórico, destacando a importância do diálogo interdisciplinar e do respeito à memória e às tradições culturais presentes no território.

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