Essa pesquisa, considerada uma das mais ousadas e pioneiras da instituição, tinha como objetivo auxiliar o governo no planejamento de políticas públicas. O IBGE buscava compreender o consumo das famílias para desenvolver índices de preço, indicadores sociais e aprimorar o cálculo do Produto Interno Bruto (PIB). O Endef revelou uma realidade alarmante de miséria e fome que assolava parte da população, mesmo em um momento de crescimento econômico acelerado.
Um aspecto inovador da pesquisa foi a inclusão de um espaço para anotações livres dos pesquisadores, que relatavam suas impressões sobre a situação dos entrevistados. Essas anotações detalhadas revelaram condições de extrema pobreza e carências nutricionais entre as famílias brasileiras, especialmente aquelas mais vulneráveis, como os boias-frias no interior do Paraná.
No entanto, parte dessas informações foi mantida em circulação restrita, levantando suspeitas de censura por parte da Ditadura Militar. A divulgação limitada do material gerou controvérsias e debates sobre o impacto dessas descobertas na sociedade. Apesar disso, o Endef foi fundamental para o desenvolvimento de novos índices econômicos e sociais, contribuindo para uma melhor compreensão da realidade brasileira.
Após o fim da ditadura, o IBGE passou por um processo de democratização e maior transparência em suas pesquisas. O resgate e o tratamento adequado dos relatórios de campo do Endef são fundamentais para a preservação da memória e da história das Ciências Sociais no Brasil. A iniciativa pioneira do IBGE na realização desse estudo evidencia a importância da pesquisa e do planejamento para o desenvolvimento social e econômico do país.