Brasões municipais do Brasil refletem relação predatória dos brasileiros com a natureza, aponta estudo em periódico científico.

A relação entre os brasileiros e o ambiente natural do país pode ser interpretada através dos brasões das mais de 5.000 cidades do Brasil, de acordo com um novo estudo. A pesquisa, coordenada por Juliano André Bogoni, da Universidade do Estado de Mato Grosso, e realizada em parceria com colegas de outras instituições, analisou os elementos presentes nos brasões municipais e revelou que a maioria destaca atividades predatórias, como lavouras lucrativas, extração de recursos naturais e criação de gado, em detrimento das espécies nativas.

O estudo, publicado no periódico especializado Anais da Academia Brasileira de Ciências, investigou os brasões de 5.197 municípios brasileiros, representando 93,3% do total. A ideia para a pesquisa surgiu do interesse de Bogoni em compreender o simbolismo presente nos brasões municipais e como ele reflete a relação histórica dos municípios com o ambiente natural. A análise levou em consideração o bioma em que os municípios estão localizados e o contexto histórico em que foram criados.

Os resultados revelaram que os brasões municipais são, em sua maioria, caracterizados por elementos relacionados à agricultura, extração de recursos naturais e criação de gado, representando 48,6%, 30,5% e 30,5% dos símbolos, respectivamente. Por outro lado, a fauna nativa brasileira foi pouco representada nos brasões, com vertebrados representando apenas 5,3% dos símbolos.

Além disso, o estudo apontou que muitos brasões retratam espécies extintas em seus territórios, bem como culturas não europeias que já não existiam mais quando os símbolos foram oficializados. Os pesquisadores ressaltaram a falta de celebração da biodiversidade brasileira nos brasões municipais, destacando uma preferência pela representação de conquista de fronteiras e recursos naturais.

Em suma, a análise dos brasões municipais sugere uma narrativa histórica da relação dos brasileiros com o meio ambiente, revelando a predominância de uma simbologia marcada por atividades predatórias e uma valorização limitada da biodiversidade e das culturas locais. Este estudo lança luz sobre a importância de repensar a representação simbólica dos municípios brasileiros e promover uma maior valorização da natureza e da cultura nativa em seus símbolos oficiais.

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