Investigação inédita de militares das Forças Armadas do Brasil gera desgaste de imagem e impactos na democracia, apontam especialistas.

Há quase seis décadas do golpe militar de 1964, as Forças Armadas do Brasil se veem diante de uma situação inédita: militares estão sendo investigados por uma tentativa de golpe de Estado. Esta investigação, que resultou em prisões de militares de altas patentes, de acordo com três pesquisadores ouvidos por especialistas, está causando um desgaste na imagem da corporação.

Segundo os especialistas, a Polícia Federal está conduzindo uma investigação sem precedentes sobre a tentativa de golpe de Estado, com autorização judicial para prender os envolvidos, o que marcará a história e envia uma mensagem clara à sociedade sobre o respeito à democracia.

Recentemente, ex-comandantes das três Forças prestaram depoimentos à Polícia Federal como testemunhas, sem que haja comentários sobre a investigação em andamento por parte da PF. Outros militares também estão sob investigação por possíveis envolvimentos no episódio da tentativa de golpe e em outros crimes.

Segundo a professora Juliana Bigatão, coordenadora do Observatório Brasileiro de Defesa e Forças Armadas da Unifesp, as investigações terão impactos significativos na percepção dos brasileiros em relação às Forças Armadas. Para ela, o fato inédito de investigar e prender membros das Forças Armadas por crimes contra a democracia demonstra um novo capítulo na história do país.

Já o professor João Roberto Martins Filho, da Ufscar, destaca que o julgamento de militares pela Justiça civil é diferente do que aconteceu logo após o golpe de 1964, quando as próprias Forças Armadas investigaram e julgaram seus membros. A atual situação, com a investigação de generais do Exército, está em outro nível.

Os especialistas apontam que a investigação envolvendo altas patentes das Forças Armadas reflete a necessidade de garantir que crimes cometidos por militares sejam devidamente investigados, sem impunidade. A existência de desfechos nos processos é considerada essencial para evitar que haja a sensação de impunidade, especialmente devido à lei de Anistia de 1979 que protegeu membros das Forças Armadas durante a ditadura.

Em relação à imagem das Forças Armadas, os pesquisadores afirmam que ainda é cedo para avaliar o impacto desses episódios. Ana Amélia Penido destaca que historicamente os militares são bem vistos pela população, principalmente pelas atividades civis que desempenham. No entanto, os recentes ataques antidemocráticos têm contribuído para uma queda na opinião favorável em relação às Forças Armadas.

Os militares que resistiram à suposta tentativa de golpe tiveram uma postura institucional, colaborando com as investigações e afirmando seu compromisso com a democracia. A Operação Tempus Veritatis, deflagrada recentemente, conta com a colaboração do Exército, que exonera militares envolvidos nas investigações.

É importante ressaltar que a politização das Forças Armadas durante o governo de Jair Bolsonaro foi apontada como uma das causas para a atual situação. Os especialistas destacam a necessidade de integrar os mundos civil e militar, buscando evitar o isolamento dos militares nos quartéis e garantindo uma atuação democrática e transparente.

A crise de imagem enfrentada pelas Forças Armadas requer um posicionamento claro e comprometido com a democracia por parte dos seus membros. A colaboração com as investigações e a disposição para superar os episódios recentes são sinais positivos de que as Forças Armadas estão dispostas a se adaptar às exigências de uma sociedade democrática.

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