Repórter São Paulo – SP – Brasil

Brasil intensifica cooperação militar com os EUA, gerando desalinhamento com política externa multilateral, aponta estudo do Ipea.

As relações militares entre o Brasil e os Estados Unidos têm sido um tema recorrente nos últimos anos, conforme aponta um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo a análise do período de 2020 a 2023, foi identificado um desalinhamento entre os objetivos gerais da Política Nacional de Defesa e da Estratégia Nacional de Defesa do Brasil, devido à concentração de postos e missões militares no país norte-americano.

De acordo com o estudo, essa preferência pelos Estados Unidos pode ser vista como um reflexo dos laços estabelecidos durante a Guerra Fria, período em que havia um alinhamento mais forte entre as duas nações. A presença militar norte-americana no Brasil remonta a diversos marcos históricos, como o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) e o Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, que foi denunciado em 1977.

No entanto, em um cenário internacional multipolar, essa forte ligação com os Estados Unidos pode não ser a mais estratégica para o Brasil, especialmente diante do aumento da influência de potências como China, Índia e Rússia. A diversificação de parcerias e a busca por uma atuação mais ampla são apontadas como alternativas mais condizentes com a política externa brasileira tradicional.

O estudo, que se baseou em fontes como o Diário Oficial da União e o acervo de atos internacionais do Ministério das Relações Exteriores, revelou que os Estados Unidos são o destino mais recorrente para cursos de pós-graduação de militares brasileiros, com um total de 27 estudantes nos três anos analisados. Essa concentração de cooperações nos EUA pode prejudicar os interesses brasileiros em espaços multilaterais de decisão, como o Conselho de Segurança da ONU.

Diante dessas conclusões, o estudo apresenta 14 recomendações políticas para a atuação internacional do setor de defesa, incluindo a priorização do entorno estratégico brasileiro e a reativação da Escola Sul-Americana de Defesa. Com o envio previsto para breve da nova Política de Defesa Nacional, Estratégia Nacional de Defesa e Livro Branco de Defesa Nacional ao Congresso Nacional, é importante refletir sobre a importância de uma abordagem mais ampla e diversificada nas relações militares do Brasil.

Sair da versão mobile