SÃO PAULO – Pesquisa desenvolve modelo computacional para identificar áreas de risco para dengue usando fotos das fachadas dos edifícios.

Os agentes comunitários de saúde que atuam no combate à dengue e a outras doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti podem em breve contar com uma poderosa ferramenta tecnológica para identificar as áreas de maior risco de infestação por esse vetor. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da University of Sheffield (Reino Unido) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolveram um modelo computacional capaz de prever se uma área urbana apresenta alto risco para a doença com base em fotos das fachadas dos edifícios.

O projeto foi financiado pela Fapesp e os resultados foram divulgados em versão preprint (artigo sem revisão por pares) no repositório medRxiv. A iniciativa é uma resposta à atual situação preocupante da dengue no Brasil, que já registra quase 400 mil casos prováveis da doença somente no ano corrente, com 54 mortes confirmadas e quase 300 óbitos em investigação, de acordo com o Ministério da Saúde.

O modelo, denominado PCINet, utiliza imagens de fachadas coletadas do Google Street View, bem como técnicas de inteligência artificial, para classificar os imóveis do ponto de vista das condições da fachada, sem a necessidade de visitas presenciais. Os pesquisadores testaram a eficácia do modelo em 200 quarteirões da cidade de Campinas e observaram que as condições da fachada se correlacionaram com as do edifício e do quintal, e razoavelmente bem com as de sombreamento.

Segundo Francisco Chiaravalloti Neto, coordenador do estudo e professor do Laboratório de Análise Espacial em Saúde (Laes) da Faculdade de Saúde Pública (FSP-USP), a utilização do PCINet poderia otimizar o monitoramento do Aedes aegypti, reduzindo o número de visitas presenciais necessárias para identificar edifícios, quarteirões e bairros com maior risco de arboviroses como a dengue, direcionando as atividades de controle para essas áreas.

Os próximos passos do projeto incluem a validação da técnica em cidades de tamanhos e características distintas, como Campinas, Indaiatuba, Santa Bárbara do Oeste, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto. Uma vez validada, a metodologia poderá ser aplicada em qualquer município brasileiro ou mesmo mundial. A expectativa é que os resultados do estudo possam indicar aos municípios as regiões com maior probabilidade de infestação pelo vetor e, portanto, maior risco de arboviroses.

A iniciativa também contou com a participação de pesquisadores do Grupo de Vigilância Epidemiológica de Campinas, do Instituto de Energia e Ambiente da USP (IEE-USP), do Instituto Pasteur de São Paulo e da University of Stirling (Reino Unido). Com a implementação desse modelo computacional inovador, os agentes comunitários de saúde poderão aumentar a eficácia de suas ações, direcionando-as de forma mais precisa e eficiente, o que pode significar um avanço significativo nas estratégias de prevenção e controle das arboviroses no Brasil e, eventualmente, em outros países.

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