Repórter São Paulo – SP – Brasil

Jovens enfrentam dilema de desistir da faculdade para contribuir com a renda familiar em meio à desigualdade social

Flávio Gomes, de 25 anos, teve que tomar uma decisão difícil em 2020: abandonar o curso de fisioterapia na faculdade devido à pandemia de Covid-19 e à necessidade de ajudar financeiramente a família. Sua mãe estava doente e o dinheiro que ele e a irmã possuíam não era suficiente para cobrir as despesas da casa. Assim, ele se voluntariou para deixar os estudos de lado e focar no trabalho.

No entanto, após dois anos afastado, Flávio conseguiu estabilizar sua situação financeira e agora pretende retomar o curso de fisioterapia. Ele ainda terá mais dois anos de estudos até poder seguir a carreira que almeja.

A situação de Flávio reflete as dificuldades enfrentadas pela população mais pobre do Brasil. De acordo com dados do IBGE, pretos e pardos, que representam 45,3% e 10,2% da população do país, respectivamente, enfrentam o dobro do índice de pobreza dos brancos. Além disso, ocupam mais trabalho informal e recebem salários menores.

Para Mário Theodoro, doutor em Ciências Econômicas, as opções de desistência são mais comuns na classe média, já que a maioria das pessoas na beira da pobreza não tem muita liberdade de escolha. Isso é corroborado pelo fato de que 69% dos cargos de gerência são ocupados por pessoas brancas, que geralmente indicam outros indivíduos do seu círculo, também da classe média.

A doutora em Psicologia Social, Jaqueline Jesus, destaca que as escolhas de vida importantes pesam mais para grupos historicamente discriminados, como negros e indígenas, que têm menos recursos e oportunidades de mobilidade social.

Vanessa de Souza, publicitária de 34 anos, também enfrentou dificuldades ao ingressar na universidade por conta de sua origem familiar e do seu histórico de problemas de saúde mental. Apesar das dificuldades, ela acredita que permanecer na universidade é crucial para ter perspectivas de ascensão social e ajudar a família a ter um futuro melhor.

Para Mário Theodoro e Jaqueline Jesus, a chave para proporcionar mais poder de escolha à população passa por políticas públicas que aumentem o acesso à educação e melhorem a distribuição de renda. A diminuição do trabalho informal e o combate à pobreza também são fundamentais para ampliar as oportunidades de escolha.

Os casos de Flávio e Vanessa evidenciam a importância da educação como meio de garantir mais chances de escolha no futuro. Flávio destaca um ensinamento que sempre ouviu da mãe: “Não desiste do estudo porque, sem ele, a gente é obrigado a aceitar o mínimo sempre”. Este princípio norteia a busca por superação das dificuldades e a conquista de novas oportunidades.

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