Abolicionista esquecido: o resgate da figura e da obra de Luiz Gonzaga Pinto da Gama, homenageado pela escola de samba Portela.

O resgate de figuras históricas esquecidas é sempre uma importante contribuição para a compreensão do passado e também para a compreensão do presente. Luiz Gonzaga Pinto da Gama (1830-1882) é um exemplo desse tipo de personagem, que, mesmo sendo reconhecido por seu papel como abolicionista, teve sua obra literária e jornalística pouco explorada ao longo dos anos.

A pesquisadora Ligia Fonseca Ferreira tem sido a principal responsável por trazer à tona os talentos literários e jornalísticos de Luiz Gama, buscando ressaltar que sua atuação não se limitava apenas à advocacia e ao movimento abolicionista. Ferreira, que se debruçou sobre a vida e obra de Gama para sua tese de doutorado, realizada na Universidade Sorbonne Nouvelle – Paris III, descobriu um personagem muito mais dinâmico do que as poucas linhas que a historiografia consagrada lhe reservou.

Nascido em Salvador, Gama era filho de uma escrava liberta com um descendente de portugueses e foi vendido como escravo por seu próprio pai aos 10 anos, indo morar em São Paulo. Mesmo alforriado aos 17 anos, permaneceu analfabeto e autodidata, mostrando grande talento para a advocacia ao utilizar as leis vigentes para conseguir alforriar centenas de escravos pelo viés da Justiça.

Além disso, em 1859, ele publicou seu único livro, “Primeiras Trovas Burlescas”, e colaborou assiduamente com jornais da época tanto de São Paulo, onde morava, quanto do Rio de Janeiro, a capital federal à época. Segundo a pesquisadora, é fundamental reconhecer o Gama escritor e jornalista, para que sua biografia não seja reduzida a um relato simples na história do abolicionismo.

Ferreira, através de seus estudos e pesquisas, resgatou a grandiosidade de Luiz Gama como um homem que enfrentou preconceitos, denunciou desigualdades e já antecipava, em suas palavras, o movimento da negritude. Seus artigos e poemas refletiam a realidade social e racial do Brasil da época, demonstrando, através de sua escrita, a luta contra o racismo e o preconceito.

Todo esse trabalho de resgate da figura de Luiz Gama contribui significativamente para o entendimento não apenas da história do abolicionismo brasileiro, mas também para a reflexão sobre questões presentes na sociedade contemporânea. A atuação do abolicionista como um defensor dos direitos dos escravizados e sua visão republicana e democrática do Brasil apontam para uma figura que vai além do movimento abolicionista, mas que também vislumbrava um país de iguais, com garantias de liberdade, igualdade e fraternidade para todos. Seus textos jornalísticos mostram um Brasil que, infelizmente, ainda sofre com problemas semelhantes aos denunciados por Gama em sua época, como a corrupção, o preconceito e a desigualdade social.

Portanto, a trajetória de Luiz Gama e o resgate de sua obra literária e jornalística pela pesquisadora Ligia Fonseca Ferreira servem como uma importante contribuição para a compreensão da história do Brasil e para o debate sobre questões presentes na sociedade contemporânea.

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