Combate às Milícias no Rio de Janeiro: Especialistas Alertam para a Necessidade de Desarticulação de Conexões com o Estado.

Nos últimos meses, o Brasil tem sido palco de notícias que envolvem confrontos armados entre milícias e assassinatos cometidos por integrantes desses grupos criminosos. Uma das ocorrências mais marcantes foi o assassinato de três médicos em um quiosque na Praia da Barra da Tijuca, em outubro de 2023. Segundo a polícia, um dos médicos foi possivelmente confundido com uma liderança de um grupo rival. Além disso, em janeiro deste ano, um atentado em outro quiosque da região vitimou um suspeito de participar de uma milícia da zona oeste da cidade.

Esses eventos são reflexos do conflito pelo controle da principal milícia da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, que teve início após a morte de Wellington da Silva Braga, conhecido como Ecko, em 2021, e se intensificou com a prisão de Luís Antônio da Silva Braga, conhecido como Zinho, irmão e sucessor de Ecko, no final de 2023. A batalha pelo território tem gerado confrontos armados em comunidades controladas por milicianos, resultando em mortes, e ameaçando a segurança dos moradores dessas áreas.

Especialistas afirmam que um efetivo combate às milícias demanda a desarticulação dos esquemas de proteção que envolvem agentes do Estado e políticos. Além disso, a prisão e morte de lideranças operacionais desses grupos criminosos, como Ecko e Zinho, não soluciona o problema. Pelo contrário, cria vácuos de poder que fomentam conflitos armados pela disputa do controle territorial.

Os especialistas ressaltam que as milícias têm ligações históricas com alguns grupos policiais, que oferecem proteção para a atuação criminosa das milícias. Portanto, é necessária uma ação estratégica de repressão às milícias, atacando suas conexões com o poder público. É preciso atacar as estruturas superiores que permitem a manutenção desse sistema, em vez de focar apenas nos operadores do varejo das atividades criminosas.

A relação das milícias com a polícia e os políticos é histórica, segundo os pesquisadores. Elas surgiram como uma evolução dos grupos de extermínio policiais na década de 60 na Baixada Fluminense e se expandiram rapidamente devido à parceria com agentes do Estado e a política. Um estudo mostrou que esses grupos criminosos já dominavam 58,6% de todos os territórios controlados por facções criminosas na cidade do Rio.

Embora haja mais leniência com as milícias do que com o tráfico de drogas, é possível perceber algumas ações mais contundentes contra esses grupos criminosos. A Polícia Civil, por exemplo, informou que tem atuação constante de combate às milícias, prendendo ou matando várias lideranças criminosas e fechando estabelecimentos ilegais. No entanto, especialistas destacam que é necessária uma mudança na forma de operar das estruturas de segurança pública e no jogo político em que elas estão inseridas para uma efetiva erradicação das milícias.

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