Festejos de Iemanjá ganham dimensão ecológica para combater acúmulo de lixo nas praias e no mar.

Os festejos de Iemanjá, celebrados na maior parte do litoral brasileiro em 2 de fevereiro com a entrega de oferendas à orixá, estão ganhando uma dimensão mais ecológica. A festa, que cresceu em público e hoje atrai também pessoas que não são praticantes das religiões afro-brasileiras, aumentou também a preocupação com o lixo deixado nas praias após os rituais e que acaba indo parar no mar.

Lideranças religiosas do candomblé e da umbanda criaram um movimento para conscientizar os participantes das festas sobre questões ambientais, que inclui mutirões de limpeza de praias e pedidos para que as oferendas a Iemanjá sejam biodegradáveis, sem materiais plásticos, metal ou vidro. Esse movimento é incentivado pelo antropólogo Rodney William, babalorixá do terreiro Ilê Obá Ketu Axé Omi Nla, de Mairiporã (SP), que participa todos os anos da centenária festa de Iemanjá no Rio Vermelho em Salvador.

De acordo com William, a festa de Iemanjá em 2023 recebeu em torno de 400 mil visitantes, entre moradores da região metropolitana de Salvador e turistas. Com o aumento do fluxo de participantes, foi realizada uma pesquisa sobre os impactos ambientais dos resíduos deixados nas festas, desenvolvida pelo babalorixá junto a biólogos e especialistas em sustentabilidade. A pesquisa resultou em orientações para criar um compromisso coletivo para tornar a festa mais sustentável.

Entre as recomendações dos religiosos está a substituição de presentes tradicionalmente ofertados à orixá, como perfumes, sabonetes, pentes, espelhos e bonecas, por oferendas como flores, ervas aromáticas e alimentos, que podem ser absorvidos pela natureza, sem poluir o mar. Além disso, a recomendação é que as pessoas revertam os presentes em contribuições para as casas de axé que tenham trabalhos sociais nas periferias das cidades.

No ano passado, após a festa de Iemanjá em Salvador, foram recolhidas 81 toneladas de resíduos das faixas de areia e do circuito do Rio Vermelho, 15% a mais do que em 2020, último evento realizado antes da pandemia. Além disso, a praia do Arpoador, no Rio de Janeiro, recebeu uma festa de Iemanjá promovida por líderes religiosos e filhos de santo, integrantes da rede de comunidades tradicionais de Madureira e também membros de quilombos do estado do Rio, para um ritual coletivo que terminou com uma ação de limpeza.

Em Sepetiba, na zona oeste do Rio, a celebração de Iemanjá acontece na praia de mesmo nome há 30 anos. Nos últimos três anos, ganhou uma conotação mais sustentável a partir do trabalho do babalorixá Rodrigo Carneiro, que criou o Instituto Terreiro Sustentável para dar continuidade ao trabalho iniciado durante sua pesquisa de dissertação de mestrado.

Assim, vemos que as festas em homenagem a Iemanjá estão cada vez mais conscientes da importância do cuidado com o meio ambiente e estão buscando alternativas mais ecológicas para as celebrações. A preocupação com o impacto ambiental dos resíduos gerados durante os rituais está levando lideranças religiosas a promoverem mudanças significativas, tornando essas celebrações não apenas um ato cultural, mas também um exemplo de sustentabilidade.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo