Território ye’kwana na fronteira Brasil-Venezuela: educação indígena se destaca com alta taxa de alfabetização.

Na fronteira do Brasil com a Venezuela, encontra-se a Terra Indígena Yanomami, que abriga não só a etnia Yanomami, mas também os ye’kwana. Com uma área de aproximadamente 9,6 milhões de hectares e um perímetro de 3.370 quilômetros, essa terra indígena é o lar de muitos povos há muitos anos, incluindo os rios Medeewaadi (Cuara), Fadaawa (Paragua), Dinhaku (Orinoco) e Fadiime (Uraricoera).

Do lado venezuelano, estima-se que existam cerca de 5 mil indígenas, enquanto do lado brasileiro, de acordo com dados da Secretaria de Saúde Indígena (Siasi/Sesai, 2019), vivem cerca de 760 pessoas em três aldeias principais: Fuduuwaadunnha e Kudaatannha, na região de Auaris, e Wachannha, às margens do Rio Uraricoera. Essa região, entretanto, está enfrentando o avanço do garimpo, que tem afetado principalmente a comunidade Wachannha e o Rio Uraricoera.

Além do combate contra o garimpo, os ye’kwana também têm se dedicado à valorização da educação indígena. O professor indígena ye’kwana Reinaldo Wadeyuna Rocha, por exemplo, cresceu com a missão de adaptar a educação dos homens brancos à sua própria educação. Ele foi alfabetizado cedo e se tornou professor, levando a educação para sua aldeia. De acordo com Reinaldo, 80% dos indígenas ye’kwana já estão alfabetizados, resultado de um trabalho conjunto da comunidade.

A Universidade Federal de Roraima há 30 anos oferece cursos de licenciatura cultural indígena, gestão territorial indígena e saúde coletiva indígena no Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena, onde Reinaldo se formou. Ele continuou seus estudos e fez mestrado na Universidade Federal de Minas Gerais, onde desenvolveu um projeto para ampliar a educação indígena para outros povos a partir da experiência dos ye’kwana.

O sociólogo e professor da Universidade Federal de Roraima, Daniel Bampi, explica que a universidade tem desenvolvido projetos de educação em parceria com os ye’kwana há 11 anos e agora planeja ampliar o programa com os sanöma, um subgrupo da etnia Yanomami. Esse projeto inclui a formação escolar dos jovens e a gestão territorial indígena, visando tratar das questões que envolvem a vida das populações indígenas em seus territórios.

O foco do projeto não é apenas no ensino básico, mas também na formação em nível médio concomitante com um técnico na gestão do território. Para os sanöma, que contam com um processo de escolarização mais iniciante, o foco será articular as necessidades territoriais com o ensino fundamental.

Para Reinaldo e para o projeto, a educação indígena é mais do que apenas ensinar matérias escolares. É uma forma de manter os conhecimentos tradicionais e culturais vivos para as novas gerações, preservando a ancestralidade e os ritos indígenas. Essa valorização da educação indígena é fundamental não só para os ye’kwana, mas também como exemplo para outros povos indígenas.

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