SÃO PAULO – Pesquisa da Unicamp revela que desregulação na comunicação celular por RNA pode reduzir longevidade dos organismos.

Recentemente, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) divulgaram um estudo que aponta que a longevidade de um organismo pode ser reduzida quando a comunicação entre as células por meio da troca de moléculas de RNA está desregulada. O experimento foi realizado com vermes da espécie Caenorhabditis elegans e os resultados foram publicados na revista Gene.

De acordo com o professor do Instituto de Biologia da Unicamp, Marcelo Mori, coautor do estudo, estudos anteriores já indicavam que alguns tipos de RNA podem ser transferidos de uma célula para outra, mediando a comunicação intertecidual. No entanto, o que não havia sido comprovado até então era que alterações no padrão dessa comunicação poderiam afetar o envelhecimento.

O trabalho foi realizado no âmbito do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da Fapesp sediado na Unicamp, e teve financiamento por meio de um projeto coordenado por Mori. A partir de suas observações, os pesquisadores criaram a alcunha de InExS (desequilíbrio de RNA sistêmico intercelular/extracelular) para referir-se à desregulação na transferência de RNAs entre tecidos e com o meio exógeno.

Segundo Mori, foi possível demonstrar que a redução no tempo de vida ocorreu não apenas pela perturbação na comunicação via RNA entre tecidos de um mesmo organismo, mas também pelo aumento da capacidade de captação de RNAs oriundos do ambiente, como bactérias da microbiota, por exemplo.

A pesquisa foi inspirada pela descoberta do fenômeno de RNA de interferência (RNAi), que rendeu o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina aos cientistas norte-americanos Andrew Fire e Craig Mello em 2006. Eles descobriram que o RNA também pode ter uma função regulatória sobre o genoma.

Os pesquisadores também investigaram a relação da transferência de RNAs exógenos, ou seja, entre o ambiente e o organismo, e observaram que a superexpressão de SID-2, que capta RNAs do ambiente pelo intestino, e o excesso de RNAs produzidos por bactérias resultaram no encurtamento do tempo de vida dos vermes.

Em resumo, os resultados deste estudo revelam a importância da comunicação entre células por meio da troca de moléculas de RNA para a longevidade dos organismos e trazem uma nova compreensão sobre o processo de envelhecimento e as doenças associadas. A descoberta aponta para a relevância de se compreender e manter o equilíbrio na transferência de RNAs entre tecidos e com o meio extracelular para garantir a homeostase e a produção de RNAs endógenos, evitando assim um envelhecimento acelerado.

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