O condomínio Panorama Privée, na praia de Icaraí, é um dos locais que têm sofrido com as consequências da construção dos espigões. A síndica do condomínio, Elisabete Sampaio, relatou que antes da construção das estruturas de pedra, o local já enfrentava danos ao muro devido às dunas da praia. No entanto, após a conclusão dos espigões, houve o desabamento devido ao avanço do mar, deixando-os perplexos com a situação.
A obra dos espigões, realizada em abril de 2022 ao custo de R$ 44,3 milhões, não tem apresentado os resultados esperados. A formação das chamadas “praias de bolso”, em que uma faixa de areia é recuperada próxima à saída das pedras em direção ao mar, foi vista como um alívio para os moradores, como é o caso da cozinheira Lívia Rodrigues e seu marido, que puderam voltar a aproveitar a praia de Icaraí após anos.
Por outro lado, a construção dos espigões não agradou a todos. Segundo o geógrafo Davis Paula, da UECE (Universidade Estadual do Ceará), a origem da erosão das praias de Caucaia está diretamente ligada à construção de espigões em Fortaleza nas décadas de 1970 e 1980. O geógrafo afirma que após a construção das obras em Caucaia, a praia vizinha da Tabuba já enfrenta efeitos semelhantes.
Além disso, o estudo de impacto ambiental realizado não avaliou de forma completa os impactos gerados pelos espigões nas praias vizinhas. A pressão política e popular, somada à falta de paciência para esperar estudos e apresentação das melhores soluções, levou a uma aceleração no processo de definição e execução das obras, o que pode ter contribuído para os resultados negativos.
Dessa forma, a construção dos espigões em Caucaia não tem se mostrado eficaz no combate à erosão costeira e tem gerado impactos negativos tanto na própria cidade quanto em praias vizinhas. A necessidade de uma avaliação mais completa e cuidadosa dos impactos das obras é essencial para o planejamento e execução de intervenções futuras ao longo do litoral brasileiro. A série “Praias Alteradas”, que ouviu especialistas e autoridades envolvidas nas obras realizadas no litoral do país, traz à tona a importância desse debate e planejamento para combater a erosão costeira.