Repórter São Paulo – SP – Brasil

Como criar uma rede de apoio na morte: lições da seva, do puerpério e de culturas que cuidam.

Após vivenciar a perda do pai de uma amiga-irmã com câncer, o autor se questiona sobre como apoiá-la sem atrapalhar. Mesmo tendo vivido situações similares nos últimos anos, a reflexão sobre a finitude e o luto ao redor sempre parece confusa e nova.

A busca por dicas sobre como apoiar uma pessoa enlutada levou o autor a constatar que, embora importantes, as frases prontas nem sempre funcionam. “Diga sinto muito no lugar de meus pêsames”, parece mais perto do sentimento, mas quando não há uma conexão real e uma escuta verdadeira, palavras não conseguem abraçar verdadeiramente o momento.

No entanto, o autor ressalta a importância da rede de apoio na hora da morte. No momento do falecimento do pai de uma amiga, outra amiga deu ao autor uma mensagem que lhe marcou: “quando minha mãe morreu, nenhuma palavra ajudava, o que ajudava muito eram os abraços, então, te mando meu abraço”. Essa energia transmitida por meio de uma mensagem de rede social foi capaz de fazer o autor sentir-se acolhido em um momento tão difícil.

Nesse sentido, a rede de apoio na hora da morte é tão fundamental para uma pessoa quanto a rede que se forma quando uma criança chega ao mundo. Essa constatação se deu dias antes do falecimento do pai de Cecília, quando o filho de uma grande amiga dela nasceu, e a família e amigos se uniram para prover e organizar tudo que a criança e a família precisariam nos primeiros 40 dias.

Esse movimento recebe o nome de seva, que simboliza a formação de uma rede de pessoas para servir a criança e a família nos seus primeiros 40 dias no mundo. Segundo a Abaky (Associação Brasileira dos Amigos de Kundalini Yoga), seva significa “serviço altruísta ou trabalho exercido sem expectativas de recompensas”. Essa ideia de seva também é aplicada em outras culturas e religiões, com a oferta de refeições ou apoio a burocracias.

A rede de apoio para o nascimento e ao longo da primeira infância é extremamente importante, pois é uma rede de cuidados que, quando unida, garante as condições necessárias para o desenvolvimento da criança. No entanto, parece que há um tabu em torno da morte em nossa sociedade, e a ajuda a um enlutado segue uma linha menos clara.

Diante desse contexto, o autor destaca a importância de ouvir com atenção, ter sensibilidade para ler o contexto no qual a pessoa em luto está e estar perto e disponível de algum modo, mesmo que não saiba ao certo o que fazer. Juntos, é possível entender melhor por onde seguir.

Por fim, o autor compartilha uma série de ensinamentos e relatos acumulados no blog Morte sem Tabu ao longo dos quase dez anos de existência. Ele reforça a importância de ser sensível e acolhedor diante do luto, respeitando o momento da pessoa e de sua família.

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