O caminho da esperança: a busca incansável por cura de uma criança

No decorrer dos últimos tempos, tenho nutrido uma grande quantidade de desejos. Tudo começou quando, aos quatro anos de idade, uma criança que eu amo recebeu um diagnóstico extremamente grave. Desde então, minha única atividade por cerca de seis anos tem sido pedir pela sua cura.

Se você viesse à minha casa e mexesse na escultura do Buda, encontraria o nome da criança logo embaixo. Abaixo da Nossa Senhora, estaria a foto da criança. Logo ao lado do Daruma, que é uma figura que possui um olho apenas pintado, estaria escrito a palavra “cura”. Até as minhas senhas eram palavras de fé, mesmo com o fato de eu não acreditar em Deus até o surgimento dessa doença.

Todas as minhas práticas, como apagar velas em meu aniversário, a contagem regressiva no ano novo, jogar moedas em fontes de desejos, e até mesmo o consumo de lentilhas na virada do ano, eram todos em nome da criança que eu tanto desejava sua cura.

Embora eu mesma não tivesse muita fé, fui aprendendo a ter. Isso foi algo que ocorreu de forma forçada e necessária, já que às vezes é somente isso que nos resta em situações tão extremas. Um momento que jamais sairá da minha memória foi o dia em que comecei a compreender os mistérios mais profundos da vida. Após a visitação a uma incontável quantidade de médicos, fomos encaminhados a um médico respeitado, que sugeriu que, caso tivéssemos fé em determinadas situações, haveria a possibilidade de um médium em Mogi das Cruzes que poderia contribuir.

Fui pega de surpresa com essa sugestão, vinda de um cientista com o jaleco repleto de simbologias de um dos hospitais mais renomados do país. O médium não foi capaz de curar a nossa criança, e é necessário destacar que nenhum tipo de tratamento deve ser substituído por terapias alternativas, já que a interrupção de um tratamento médico pode ter consequências extremas. O doutor recomendou que seguíssmos com o tratamento convencional e, adicionalmente, apostássemos nossas fichas na fé, já que alguns dos seus pacientes haviam melhorado sem explicação.

Além de Mogi das Cruzes, fomos a outros lugares também. Lembro-me vividamente de um “hospital” onde a nossa criança foi submetida a um procedimento espiritual. Era uma situação peculiar, visto que tinha uma estrutura normal de um hospital, porém iluminado com luzes vermelhas e verdes, e em substituição dos equipamentos cirúrgicos, haviam orações.

Todos os acompanhantes presentes foram instruídos a fechar os olhos e visualizar a cura da criança, mas eu não consegui fazê-lo. Em vez disso, observei com atenção as pessoas vestidas de branco, todas elas em volta da maca, recitando suas orações, ponderando sobre o que eu poderia escrever a respeito disso.

Não há nada mais desolador do que testemunhar uma criança lidando com uma doença. A degeneração jamais deveria se abrigar em um corpo que deseja, acima de tudo, apenas brincar.

Felizmente, há uns poucos meses atrás, a nossa criança se curou. Embora não saibamos ao certo como, visto que a cura, por vezes, é um mistério, acreditamos que tenha sido resultado de uma intervenção médica tardia, e do desenvolvimento do órgão. Se a nossa fé foi ou não um fator contribuinte, jamais teremos a certeza, mas posso assegurar que trouxe algum alívio, o que já é algo significativo.

Neste período de virada de ano, não pedi absolutamente nada. Todas as ondas e as sete uvas foram em gratidão. Todas as moedas que joguei nas fontes foram para agradecer. Se você abrir o meu Buda, encontrará um adesivo com a palavra “obrigada”. E ao lado, um Daruma com o segundo olho alegremente pintado.

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