Desafios e dilemas do sistema BRT de Curitiba: 50 anos depois, os problemas persistem no transporte coletivo da cidade

Há quase 50 anos, em 1974, o então prefeito de Curitiba, Jaime Lerner (1937-2021), inaugurava na cidade o primeiro trecho de BRT (Bus Rapid Transit, na sigla em inglês), com cerca de 20 quilômetros de corredores exclusivos para ônibus de grande capacidade, chamados de canaletas. Hoje, o sistema representa 84 quilômetros dentro do sistema de ônibus da capital paranaense e é considerado um exemplo bem-sucedido de transporte de massa, sendo utilizado como referência em outras cidades ao redor do mundo.

No entanto, apesar do sucesso do BRT, a empresa responsável pelo transporte de Curitiba tem enfrentado dificuldades para resolver problemas persistentes no sistema. Alguns desses problemas são inerentes ao próprio modelo, como o desconforto e a insegurança enfrentados pelos cobradores que trabalham nas estações-tubo. Outros são comuns a uma metrópole brasileira, como o preço da passagem, o tempo de viagem e o excesso de usuários em determinados horários.

Segundo o professor da UFPR Cassius Scarpin, a forma de gestão do transporte público em Curitiba não evoluiu significativamente nas últimas décadas, com investimentos voltados principalmente para a tecnologia dos veículos, em detrimento de estudos sobre mudanças operacionais e de demanda. Este cenário tem levado a uma queda no número de passageiros, motivada pela pandemia de Covid-19, popularização de aplicativos de transporte e aumento do home office.

Um dos principais pontos de crítica ao sistema de transporte público de Curitiba é a tarifa única de R$ 6,00, uma das mais altas entre as capitais brasileiras. Scarpin defende a adoção de uma tarifa proporcional ao trecho percorrido pelo usuário, na tentativa de tornar o sistema mais atrativo para a população.

Outros desafios enfrentados pelo sistema incluem o tempo de viagem e lotação dos ônibus nos períodos de grande pico, além do ambiente de trabalho dos cobradores nas estações-tubo, que enfrentam dificuldades decorrentes das condições climáticas.

Ainda assim, a Urbs tem apostado na ampliação do chamado Ligeirão, um modelo de ônibus que só faz paradas nos terminais, visando aumentar a velocidade e capacidade de transporte. Além disso, a empresa estuda a possibilidade de implementar a passagem proporcional e soluções para reduzir o número de passageiros nos horários de pico.

Em resumo, apesar do sucesso inicial do BRT em Curitiba, o sistema enfrenta desafios significativos que precisam ser superados para garantir a qualidade e eficiência do transporte público na cidade. A necessidade de estudos aprofundados sobre a viabilidade futura do BRT é destacada como fundamental para o planejamento de longo prazo e aprimoramento do sistema de transporte de massa.

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