Repórter São Paulo – SP – Brasil

Brasil projeta uso de “12 Maracanãs” de areia para alargamento de praias, mas enfrenta críticas e desafios na implementação das obras.

O Brasil tem sido palco de uma corrida por obras de engordamento de praia nos últimos seis anos, o que implica na utilização de uma quantidade exorbitante de areia, equivalente a mais de “12 Maracanãs”, para expandir as praias do litoral. Essa estratégia tem sido a mais defendida por oceanógrafos como forma de mitigar a erosão costeira.

No entanto, especialistas criticam os elevados custos tanto para a realização quanto para a manutenção dessas obras. Além disso, apontam que projetos limitados podem gerar problemas ao longo do litoral no futuro. Um levantamento feito pela Folha identificou 24 intervenções de grande porte realizadas entre 2018 e 2023 ou projetadas para ocorrer nos próximos anos.

A obra mais conhecida, que ganhou notoriedade nacional, foi a ampliação da praia de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, em 2021. Além do engordamento de praia, projetos também incluem a construção de espigões, estruturas rígidas para reter a areia, como forma de mitigar a erosão costeira que atinge cerca de 60% do país.

No entanto, especialistas apontam que o motivo da erosão precisa ser bem estudado e avaliado, para que os procedimentos técnicos embasados sejam adotados. Caso contrário, pode-se correr o risco de gastar grandes quantias em uma engorda que não trará o resultado desejado.

Apesar de relativamente antiga no país, a técnica de engorda de praia tem ganhado força nas últimas décadas. O professor Paulo Pagliosa, do Núcleo de Estudos do Mar da UFSC, critica a necessidade de manutenção constante dessas obras, que exigem novas aplicações de areia ao longo do tempo.

A preocupação com o impacto das intervenções ao longo da faixa costeira é uma das fragilidades apontadas, assim como a falta de estudos sobre o real impacto dessas obras. Além disso, as obras não seriam capazes de impedir o avanço do mar em caso de elevação significativa dos oceanos devido ao aquecimento global.

Apesar do “boom” dessas obras, o Brasil ainda movimenta um volume bem menor de sedimentos do que os Estados Unidos, cujo litoral tem o triplo de extensão do brasileiro. O país também enfrenta a questão da falta de organização e planejamento nessas intervenções, que muitas vezes visam uma sobrevivência temporária das praias.

Diante desse cenário, especialistas reforçam a importância de um programa de monitoramento e planejamento para as obras de engordamento de praia, a fim de garantir a sua efetividade ao longo do tempo. Contudo, é evidente que há um longo caminho a percorrer para que essas intervenções alcancem resultados consistentes e sustentáveis.

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