Essa mudança no perfil étnico-racial do país não é apenas um reflexo demográfico, mas sim de outros fenômenos sociais, de acordo com especialistas. Eles apontam que a percepção de cor ou raça é uma construção social e está relacionada a contextos socioeconômicos e das relações interpessoais. A historiadora Wania Sant’Anna afirma que o Brasil está vivendo um momento de reconhecimento étnico-racial, especialmente no campo da negritude e afrodescendência.
Além disso, a pesquisadora Tatiana Dias Silva ressalta que o aumento da população negra no país não pode ser explicado apenas por questões demográficas, como natalidade e fecundidade, mas sim por um maior reconhecimento e discussão sobre a questão racial.
Os resultados do Censo 2022 são vistos como uma ferramenta estatística e uma evidência para a busca por mais representatividade e políticas públicas. Especialistas acreditam que isso pode influenciar a indicação de mulheres negras para cargos como o Supremo Tribunal Federal (STF) e a ampliação das políticas afirmativas, como cotas para negros nas universidades.
Esses dados também são usados para analisar recortes das informações demográficas com indicadores de trabalho, educação e expectativa de vida, a fim de embasar discussões e elaboração de políticas públicas sobre desigualdades raciais. No entanto, é importante ressaltar a necessidade de cuidado na execução de políticas de ações afirmativas, pois já foram identificados casos de pessoas brancas se declarando pardas para usufruir dessas ações.
No geral, a expectativa é que o país e a sociedade vivenciem um círculo virtuoso envolvendo debates sobre questões raciais, reconhecimento e políticas públicas, visando a construção de uma sociedade com mais justiça racial e enfrentamento das desigualdades.