Na última quinta-feira (21), um trágico incidente chocou a comunidade pataxó hã-hã-hãe, na entrada da Aldeia do Rio Pardo, no município de Pau Brasil, sul da Bahia. Lucas Kariri-Sapuyá, de 31 anos, foi assassinado a tiros em uma emboscada, por dois homens encapuzados, quando retornava à sua comunidade, com o filho na garupa da motocicleta. Lucas era dirigente estadual da Rede Sustentabilidade e agente de saúde do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) da Bahia.
A área da Reserva Indígena Caramuru-Paraguassu é conhecida por confrontos e invasões, muitas vezes motivados pelo interesse de fazendeiros e posseiros. A estrada onde o cacique foi emboscado ganhou notoriedade por ter sido o local onde, em 1988, o líder pataxó João Cravim, de 29 anos, também foi executado. Lucas pretendia concorrer ao cargo de prefeito nas próximas eleições e deixou três filhos e uma companheira.
O partido político ao qual Lucas era vinculado emitiu uma nota exigindo a apuração das circunstâncias que levaram à morte do líder indígena e pedindo acompanhamento por parte do governo federal. Nas redes sociais, amigos e conhecidos descreveram Lucas como alguém “aguerrido e corajoso”, além de ser um “mobilizador de esportes na comunidade” e um “defensor da educação escolar indígena”. Ele também fazia parte do Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba).
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Ministério dos Povos Indígenas se manifestaram sobre o ocorrido, expressando indignação e solidariedade à família e à comunidade pataxó hã-hã-hãe. Ambos prometeram acompanhar de perto as investigações para identificar e responsabilizar os autores do crime.
A Secretaria da Segurança Pública da Bahia afirmou que já está tomando providências para apurar o caso, com a expedição de guias periciais e oitivas e diligências investigativas em conjunto com equipes da 6ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin) de Itabuna.
A morte de Lucas Kariri-Sapuyá é mais um triste capítulo na trágica história de violência contra líderes indígenas no Brasil. Sua morte provoca indignação e tristeza, mas também renova o compromisso de luta pela preservação dos direitos e da dignidade dos povos indígenas. Que a memória de Lucas seja lembrada e honrada nessa contínua batalha pela justiça e igualdade.