O parecer que recomendou a concessão da honraria inclui os integrantes Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay entre os “maiores intelectuais da contemporaneidade brasileira”. A aprovação do conselho universitário da instituição foi realizada no final de novembro e, de acordo com o professor Mário Medeiros, do Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais e presidente da comissão de especialistas que avaliou a pertinência da concessão do título ao grupo, a decisão se baseou na contribuição das letras e práticas públicas dos Racionais MC’s para a coletividade.
A ideia de conceder o título de doutores honoris causa aos Racionais surgiu em uma disciplina de graduação ministrada pela professora Jaqueline dos Santos, que também é pesquisadora do Geledés Instituto da Mulher Negra. O grupo teve uma importante formação política no Geledés, inclusive se aproximando de movimentos como o feminismo negro. Segundo o professor Mário Medeiros, a proposta também foi pensada em conjunto com outras instituições, como o Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial (Afro Cebrap) e a Universidade Estadual de Londrina.
Além disso, em 2020, o livro “Sobrevivendo no Inferno” passou a ser de leitura obrigatória para o vestibular de ingresso na Unicamp. Este livro traz as letras do álbum lançado em 1997 pelo grupo e teve um grande impacto na cena do rap. Medeiros enxerga o título dado aos músicos como uma forma de abrir as portas da universidade para valorização de grupos até hoje sub-representados na instituição.
Espera-se que a honraria estendida aos Racionais MC’s também represente comunidades que têm experiências e marcas sociais históricas em comum com o grupo. O professor enfatiza que este reconhecimento irá legitimar a contribuição desses grupos para a produção de conhecimento sobre a sociedade.