Pesquisa revela avanço do revisionismo ideológico nas salas de aula: estudioso alerta para impacto negativo da disseminação dessas narrativas na educação básica.

A pesquisa de Pedro Zarotti Moreira, intitulada “Tuas Ideias Não Correspondem aos Fatos: O Ensino de História e o Revisionismo Ideológico em Difusão na Atualidade”, realizada em seu mestrado profissional na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), revela a presença do revisionismo ideológico em escolas do ensino básico. O estudo investigou a atuação dos revisionistas ideológicos dentro dessas instituições de ensino, abordando a abordagem da escravidão no Brasil, a inversão do espectro político do nazismo e a atenuação do caráter da ditadura militar brasileira.

Segundo o pesquisador, revisionismo ideológico consiste na análise tendenciosa de fatos do passado, sem a utilização de procedimentos acadêmicos reconhecidos da pesquisa historiográfica. Para isso, foram entrevistados 85 professores que participavam do programa de pós-graduação ProfHistória, coordenado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que atuavam na educação básica. A maioria dos docentes entrevistados atuava nas Regiões Nordeste e Sudeste do Brasil, e a pesquisa revelou que 66 dos entrevistados presenciaram manifestações de revisionismo ideológico no espaço escolar.

Os temas mais questionados pelos revisionistas foram a ditadura militar brasileira, o nazifascismo, a escravidão, o racismo, as religiões de matriz africana e os indígenas. De acordo com Zarotti, em muitos casos esses questionamentos partem dos próprios alunos, mas também envolvem os pais, colegas professores e superiores na instituição de ensino. O pesquisador destacou a preocupação com a presença dessas narrativas revisionistas dentro da escola, que deveria ser um espaço de combate e análise crítica.

A pesquisa também apontou que o revisionismo ideológico ocorre principalmente nas turmas do último ano do ensino fundamental (9º) e nos três anos do ensino médio, especialmente no terceiro ano. Zarotti explicou que isso pode ser explicado pela questão etária dos alunos e pelos temas históricos tratados nesses anos de escolaridade. Ele ressaltou que, nesse período, os alunos começam a assumir uma postura mais questionadora, o que pode gerar conflitos com os professores.

Marcus Bomfim, professor da área de Ensino de História da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), avaliou que o negacionismo e o revisionismo dentro das salas de aula estão relacionados à reação de classes sociais que viram seus privilégios ameaçados, o que resulta em uma tentativa de refutar qualquer leitura de mundo que possa questionar o status quo. Ele ressaltou a importância dos professores na construção das narrativas históricas dentro da escola, baseadas em valores como a democracia, os direitos humanos e a preocupação com a vida.

Em suma, a pesquisa de Pedro Zarotti Moreira revela a presença do revisionismo ideológico em escolas do ensino básico, o que levanta preocupações sobre a disseminação de narrativas que distorcem a realidade histórica do Brasil e do mundo. A atuação dos professores como intelectuais e sua importância na construção de narrativas baseadas em valores democráticos e nos direitos humanos é fundamental para combater o negacionismo e o revisionismo no ambiente escolar.

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