Comunidade quilombola de Cafundó, em SP, sobrevive da exploração de areia por mineradora e enfrenta desafios ambientais e culturais

O Quilombo Cafundó, em Salto de Pirapora, interior de São Paulo, é uma comunidade composta por mais de 30 famílias que ocupam uma área de 217 hectares em processo de delimitação. A chegada ao quilombo é feita por uma estrada de terra e, à primeira vista, estão uma capela, um espaço de convivência, uma pousada e casas de alvenaria ou barro. No entanto, esses espaços constituem apenas uma pequena parte do território quilombola.

Em 1995, a realidade do quilombo era completamente diferente, com apenas cerca de 20 barracões e casebres de tijolo ocupando 8 dos 90 hectares que faziam parte do território na época. Atualmente, a maior área do território é conhecida como Gleba D ou Fazenda Eureka e é marcada pela zona de mata, guarda uma plantação de eucalipto, histórias de disputas judiciais pela posse da terra e a presença de uma mineradora que explora areia no local.

A associação remanescente do Quilombo do Cafundó recebe um valor mensal de R$ 30 mil da mineradora Ouro Branco, o que garante a sobrevivência da comunidade. Marcos Norberto de Almeida, coordenador do quilombo, ressalta que o contrato com a mineradora foi decisivo para o avanço da comunidade.

A comunidade é formada por quatro partes chamadas de glebas, em fases distintas de regularização, mas sob posse do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Além do valor recebido da mineradora, os moradores utilizam as terras para o plantio de vegetais, vendidos ao Estado por meio de programas de fomento a produtores. No entanto, a falta de apoio governamental é enfatizada como um empecilho para o progresso da comunidade.

Na época, a preservação da língua falada no local, a cupópia, era um ponto importante. Atualmente, a língua é conhecida apenas pelos mais velhos, as crianças já não aprendem mais, e o racismo que sofrem fora do quilombo faz com que elas não queiram estudar o idioma.

Apesar dos avanços, a comunidade ainda enfrenta desafios, como a exploração de areia que resulta em terras inférteis e a contaminação de nascentes. A empresa Ouro Branco, responsável pela exploração, não respondeu às tentativas de contato para questionar as precauções tomadas para evitar danos ambientais.

A mineradora garantiu o direito de explorar minério no local por meio de um contrato de arrendamento rural feito com o antigo proprietário, mas a comunidade já estava presente na região desde o final do século XIX. A empresa mantida a pedido do órgão federal para evitar perdas em decorrência da disputa territorial.

Apesar de todos os avanços e desafios enfrentados, a comunidade do Quilombo Cafundó se mantém ativa e em busca de formas para a sustentabilidade e preservação de sua cultura e território.

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