Comunidades Tradicionais do Brasil Reivindicam Destaque na COP28 da ONU em Dubai e Questionam Fracasso das Conferências Anteriores.

Comunidades tradicionais do Brasil marcam presença na COP28, conferência do clima da ONU que teve início na última quinta-feira (30) em Dubai, nos Emirados Árabes. A participação dessas comunidades se dará em alguns painéis e rodas de conversa, tanto presencialmente quanto por meio de videoconferências e depoimentos gravados.

Apesar da presença, as comunidades tradicionais reivindicam mais destaque e protagonismo nos debates sobre as mudanças climáticas. De acordo com Selma Dealdina, vice-presidente do conselho do Fundo Casa Socioambiental e uma das palestrantes brasileiras na COP28, é fundamental incluir a pauta racial no debate sobre o meio ambiente, justiça climática e gestão territorial dos biomas.

Selma, que também é membro da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas, ressalta a importância de trazer o recorte de gênero e do papel das mulheres na conservação das florestas através da forma como lidam com a terra. Ela também questiona a falta de representatividade dessas comunidades, que sofrem com os impactos das mudanças climáticas, nos principais debates sobre o tema.

Além disso, um estudo do ISA (Instituto Socioambiental) publicado no ano passado revelou que povos indígenas e tradicionais desempenham um papel fundamental no cuidado das florestas do Brasil. Segundo a análise, as terras indígenas protegeram 20% do total de florestas nacionais nos últimos 35 anos.

João Leôncio, vice-cacique da Terra Indígena Cachoeirinha, do povo Terena e Kinikinau, em Mato Grosso do Sul, abordará na COP28 o papel dos povos indígenas na proteção ambiental. No entanto, ressalta que há uma demora na demarcação das terras indígenas, trazendo suas preocupações sobre essa questão para o evento.

A COP28 conta com a presença de representantes de quase 200 países, mas a falta de protagonismo das comunidades tradicionais nos debates tem sido destacada por especialistas. Bárbara Barbosa, coordenadora de justiça racial e de gênero da Oxfam Brasil, afirma que as comunidades tradicionais têm sido preteridas nos debates, apesar de protegerem as matas e os rios, ressaltando que as cadeias produtivas da economia poderiam ser mais sustentáveis se aprendessem com as tecnologias e formas de trabalhar desenvolvidas por essas comunidades.

Apesar da falta de destaque nos debates, Letícia Santiago de Moraes, vice-presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas, ressalta a importância de fazer contato com comunidades de outros estados e países para melhorar a articulação em defesa dos direitos coletivos.

Em relação à escolha dos Emirados Árabes como anfitriões da COP28, houve críticas devido a documentos vazados indicarem que a presidência da cúpula estudou como fechar acordos sobre petróleo em conversas com países no âmbito do evento. A falta de oportunidades de participação para as comunidades tradicionais também é ressaltada por especialistas.

Portanto, apesar da participação das comunidades tradicionais, há um desafio contínuo em dar voz e visibilidade a essas populações nos debates sobre mudanças climáticas e preservação ambiental, e a COP28 traz à tona a importância de incluir essas comunidades no centro das discussões sobre o tema.

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