Estudo revela composição genética diversificada da população brasileira, com influência europeia, africana e indígena

A população brasileira é composta por uma mistura diversificada de origens genéticas, de acordo com um estudo realizado pela Genera, um laboratório especializado em genômica pessoal. O DNA dos brasileiros revela uma ancestralidade majoritariamente europeia, africana e nativo-americana (indígena), com diferenças significativas entre as linhagens paternas e maternas.

O estudo revela que a linhagem paterna apresenta uma concentração de mais de 80% de códigos genéticos comuns na Europa, enquanto a linhagem materna é predominantemente indígena e africana. A distribuição dessas ancestralidades é semelhante em todo o país, mas varia em algumas regiões devido a diferenças históricas e populacionais.

Segundo Ricardo di Lazzaro Filho, doutor em genética e biologia evolutiva e fundador da Genera, as linhagens revelam a herança genética recebida exclusivamente das vias paterna e materna. A ancestralidade paterna é obtida pelo cromossomo Y, transmitido apenas por pessoas do sexo masculino, enquanto a ancestralidade materna é transmitida via DNA mitocondrial, presente nas células humanas e transmitida apenas pela mãe a todos os seus filhos biológicos.

De acordo com o estudo, a região Norte do Brasil apresenta a maior presença de povos originários, com uma parcela de linhagens maternas proveniente das Américas e Ásia correspondendo a 51%. Já no Nordeste, a concentração é maior de descendentes de linhagem materna africana, correspondendo a 40%. Em todas as regiões, a ancestralidade materna europeia é mais frequente no Sul e Sudeste.

A bioantropóloga Mariana Inglez destaca a importância de compreender as ondas migratórias no Brasil e os impactos dessas movimentações na composição genética atual. Ela ressalta que o genocídio de populações negras e indígenas fez parte de uma política eugenista de Estado, e que esses povos foram dizimados em algumas regiões do país, enquanto em outras foram incorporados à mão de obra escrava.

Embora o estudo traga vieses de amostra devido ao perfil de quem paga pelo teste de ancestralidade, os especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que os resultados são compatíveis com outros estudos genéticos realizados no Brasil. Segundo Michel Naslavsky, doutor em genética pela USP, essas informações podem ser aplicadas na saúde pública, auxiliando na identificação de populações mais propensas a cada tipo de doença.

O estudo analisou mais de 260 mil DNAs coletados para o teste de ancestralidade, respeitando as políticas de privacidade da Lei Geral de Proteção de Dados. Os números apresentados protegem dados sensíveis dos clientes, e, embora possa trazer vieses de amostra, reforçam o conhecimento histórico e científico sobre a formação da população brasileira.

Assim, a análise genética revela a complexa e diversificada composição genética da população brasileira, resultante de séculos de migrações e misturas étnicas, e oferece informações importantes para compreender a origem e a saúde pública das diferentes populações do país.

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