Relações afrocentradas ganham espaço no Brasil e desafiam padrões de relacionamento inter-racial em novo estudo do Datafolha.

As relações afrocentradas têm ganhado espaço no Brasil e vêm se tornando um tema em destaque nos últimos anos. Esse termo é usado para designar uma união afetiva e/ou sexual entre pessoas negras, onde o foco do casal está na negritude e em seu posicionamento frente a questões étnico-raciais.

Especialistas apontam que a intenção nas escolhas pela raça dos parceiros é orientada também por fatores externos e históricos, incluindo o racismo. Segundo a historiadora Giovana Castro, da geração dela até a atual, ainda há preocupação em discutir a Constituição para garantir direitos à população negra, mas também há uma contribuição atual que oferece caminhos para alcançar a equidade.

Um exemplo de casal que se enquadra neste tipo de relação é a produtora de conteúdo gaúcha Michele Nascimento e o carioca Maurício Ribeiro. Para Michele, o namoro entre eles é um ato político e de resistência, destacando que o relacionamento afrocentrado vai além do aspecto conjugal ou amoroso, sendo um ato de resistência fazer uma relação preta existir.

Ela também ressalta que ambos compartilham não apenas características físicas, mas também de vivências, o que permite o reconhecimento mútuo. Porém, o casal enfrenta desafios, principalmente o de saber que compartilham a mesma dor.

Michele e Maurício se conheceram em uma festa voltada para o público negro em Porto Alegre e decidiram criar o perfil “Mais um Casal Preto”, que hoje conta com mais de 100 mil seguidores no Instagram. Juntos há sete anos, o casal compartilha conteúdos sobre estilo de vida, comida e moda na internet.

Outro aspecto importante sobre relações afrocentradas é que amar pessoas com a mesma cor de pele não é exclusividade de nenhuma raça no Brasil. Segundo pesquisa Datafolha, 15% dos brasileiros afirmaram que em todos os seus últimos relacionamentos amorosos os parceiros tinham a mesma cor de pele que a sua.

A pesquisa, realizada de 9 a 17 de outubro de 2023, faz parte da série “Afeto em Preto e Branco” e ouviu pessoas de 16 anos ou mais de todas as regiões do país, com diferentes marcadores de gênero, raça e escolaridade, entre outros. Outro aspecto abordado é a colonialidade das emoções, que segundo o sociólogo Rhuann Fernandes, continua afetando o país.

Por fim, o relacionamento afrocentrado tem ajudado casais como Angelica Souza e Fábio Rodrigues, que buscam apoio um no outro para enfrentar determinadas situações, como por exemplo, a prática de esportes que muitas vezes é majoritariamente praticada por pessoas brancas. Esses exemplos mostram que as relações afrocentradas têm se tornado uma forte expressão de identidade e resistência no contexto étnico-racial do Brasil.

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