Pescadores nativos monitoram e protegem ninhos de tartarugas ameaçadas em reserva do litoral cearense.

Na praia do Batoque, em Aquiraz, Ceará, a vida começa muito cedo para Maciano Silva Santos, conhecido como Tiú, e seu pai, José Fabiano dos Santos, também chamado de Neném. Para a maioria dos trabalhadores, por volta das 9h da manhã, o dia está apenas começando, mas para esses dois especialistas em rastrear ninhos de tartarugas, o fim do expediente já se aproxima. A rotina desses moradores da reserva extrativista local é dedicada à proteção dos ninhos de tartaruga-de-pente, uma espécie ameaçada que escolhe as praias da região para desovar.

Tiú cresceu observando seu pai, um pescador experiente, e aprendeu a identificar os rastros deixados pelas tartarugas adultas na areia, além de discernir os melhores locais para encontrar os ninhos. O apelido do filho, segundo seu Neném, tem origem em um lagarto brasileiro gigante que pode atingir dois metros de comprimento, uma alusão à habilidade de Tiú em encontrar os ninhos.

Atualmente, Tiú faz parte do projeto “Apremace – Amigos do Mar” e, junto com seu pai, já colaborou para o nascimento de mais de 6.000 tartarugas, um número significativo levando em consideração a ameaça que a espécie enfrenta. O projeto tem como objetivo monitorar e proteger os ninhos ao longo de três meses, período em que cerca de 120 filhotes nascem a cada eclosão de ninho.

As ferramentas utilizadas por Tiú são a lua, a maré e os rastros deixados na areia pelas fêmeas. Ele consegue identificar a densidade da maré a partir da lua e, com isso, determinar onde estão as “camas” de desova. A observação dos rastros deixados pelas tartarugas adultas indicam a localização dos ninhos, um importante procedimento para a proteção da espécie.

Apesar do empenho de Tiú, a região enfrenta desafios devido à falta de fiscalização e conscientização ambiental. A presença de lixo descartado de forma irregular e o trânsito irregular para as praias são ameaças à preservação das tartarugas. Ativistas alertam para a necessidade de educação ambiental e fiscalização mais efetiva, visando a proteção das áreas de preservação.

Entretanto, há esforços para minimizar esses problemas. O governo estadual inaugurou um espaço para cuidar de tartarugas machucadas, mas a ausência de um veterinário no local e a falta de remuneração para os responsáveis torna o espaço inutilizado. As tartarugas que precisam de reabilitação acabam sendo encaminhadas para outras localidades, como Mossoró, no Rio Grande do Norte.

Diante desse cenário, órgãos como Detran-CE e Semace se manifestaram afirmando que realizam fiscalizações e que intensificarão as ações para coibir o trânsito irregular de veículos e outras atividades que comprometam as áreas de preservação. O batalhão de polícia ambiental também se comprometeu a colaborar com a fiscalização, visando o controle de crimes ambientais como poluição sonora e trânsito irregular.

Em meio a desafios e esforços para preservação, Tiú e seu Neném continuam dedicados à proteção dos ninhos de tartarugas, em uma luta diária para garantir a sobrevivência desses animais em meio a um ambiente ameaçado. Este trabalho incansável é essencial para a preservação de uma espécie tão ameaçada, e o exemplo desses moradores certamente inspira outros a se engajarem nessa causa.

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