Onda de calor recorde no Brasil é reforçada por bloqueio atmosférico, El Niño e mudanças climáticas, alertam especialistas.

O Brasil tem sofrido com ondas de calor intensas, que têm elevado as temperaturas em até 5ºC em diversas regiões do país. Esse fenômeno é resultado de um bloqueio de pressão atmosférica, influenciado pelo El Niño e pelas mudanças climáticas. Atualmente, o país está enfrentando a oitava onda de calor em 2023, estando sob aviso até a próxima sexta-feira.

A característica principal dessa onda de calor é a extensão da zona de alta pressão atmosférica, que se estende desde o norte da Argentina até o sul da Amazônia, impedindo a chegada de frentes frias a essas áreas. Além disso, o El Niño, que é caracterizado pelo aquecimento das águas do Pacífico equatorial, também tem afetado a circulação de massas de ar, intensificando a permanência de ar quente e seco em parte do país.

Especialistas apontam que a frequência de eventos extremos é um reflexo das mudanças climáticas, afetando a intensidade das chuvas e do calor. Grandes cidades como São Paulo têm lidado com fatores locais, como materiais que absorvem calor em ruas, edifícios e equipamentos públicos, que criam as chamadas ilhas de calor no microclima municipal. A capital paulista bateu um novo recorde de temperatura neste ano, atingindo 37,4°C.

De acordo com o meteorologista Marcelo Seluchi, do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a extensão e a duração da zona de alta pressão atmosférica contribuem para a retroalimentação do calor e a permanência do ar seco. A falta de chuvas também tem contribuído para a alta das temperaturas, já que a energia do sol é consumida principalmente para aumentar a temperatura e evaporar a água do solo.

Seluchi também ressalta que, apesar de estarmos na primavera, uma estação de transição antes da chegada do verão, mais chuvoso, a ausência de chuvas tem contribuído para a continuidade do calor.

A influência do El Niño na mudança de correntes de ar tem reforçado o bloqueio atmosférico, mantendo frentes frias estacionadas na região Sul do Brasil. Isso explica a grande quantidade de chuva na região, que tem enfrentado desastres ao longo do ano.

O meteorologista Guilherme Borges, da empresa Climatempo, destaca que a região de Porto Alegre já registrou um volume maior de chuvas do que o esperado para o período. Ele também aponta que os efeitos das mudanças climáticas são evidentes, com um ciclo de aquecimento desde 1950, potencializado pelas emissões de gases de efeito estufa.

Os estudos de atribuição têm mostrado que um planeta mais aquecido tende a ter efeitos mais acentuados de fenômenos atmosféricos, como El Niño e La Niña, que são marcados por situações opostas. Assim, as mudanças climáticas aumentam os extremos desses fenômenos, resultando em efeitos mais drásticos.

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