Disputa entre traficantes no Morro do Índio, em Cubatão, revela domínio do PCC no controle de pontos de drogas em SP.

O Morro do Índio, localizado em Cubatão (SP), tem sido palco de uma intensa disputa territorial entre traficantes nos últimos tempos. A mais recente briga envolve Reinaldo Bock Coutinho, conhecido como Chuck, e um traficante apelidado de Pivete que tentou reivindicar a posse de um ponto de drogas sob o domínio de Chuck, a chamada Adega. Além disso, outro criminoso, conhecido como Ratinho, tentou abrir uma “boca” de venda de drogas no beco da Farinha, uma iniciativa que já havia sido vetada anteriormente por Príncipe, uma espécie de “disciplina” que impõe as ordens do crime organizado.

O que chama atenção nessa história é que Chuck, mesmo preso em uma penitenciária de Mirandópolis (SP) à época dos acontecimentos, teve influência suficiente para acionar os chefes do Primeiro Comando da Capital (PCC) a fim de resolver o impasse. Isso mostra claramente o poder de decisão do PCC sobre quem pode ou não pode vender drogas nos territórios controlados pela facção criminosa. Não é somente o Morro do Índio que está sob o domínio do PCC, mas praticamente toda a região metropolitana de São Paulo, estendendo-se a cidades de outros estados, como parte do Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais.

Os diálogos e documentos interceptados pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de São Paulo são a comprovação desse controle do PCC sobre os territórios de venda de drogas, com influência até mesmo sobre a decisão de quem pode ou não vender entorpecentes nas ruas. Essa situação, de acordo com as autoridades policiais e promotores, é uma realidade presente na maior parte do território paulista.

Documentos apreendidos pelas polícias e Promotoria mostram que o domínio do PCC sobre os territórios de venda de drogas foi se consolidando ao longo dos anos. Atualmente, no estado de São Paulo, ainda que o traficante não pertença ao grupo, só pode comercializar drogas fornecidas por integrantes do PCC. Todos os territórios de venda de entorpecentes são considerados propriedade da facção criminosa e são vendidos ou arrendados para criminosos parceiros.

Para o procurador Marcio Sergio Christino, especialista em crime organizado, o monopólio do PCC no estado de São Paulo, em especial para a cocaína, começa já na Bolívia, onde a facção fez um acordo com os produtores locais. Segundo Christino, o PCC se tornou o único comprador oficial da pasta-base da cocaína no país sul-americano. Além disso, o procurador afirma que o crime organiza vendedores autônomos por meio do comportamento dos usuários. A tática do PCC é mapear os vendedores autônomos por meio de relatos dos usuários, que revelam quais traficantes praticam preços mais baixos.

Outro aspecto relevante desse domínio do PCC sobre o tráfico de drogas em São Paulo é a estrutura empresarial da facção no controle das “lojas” de drogas. A facção controla a venda de drogas como uma franquia, com regras rígidas que os traficantes devem seguir, e o percentual de lucro que deve ser repassado para a cúpula do PCC. Nos pontos de venda de “franqueados”, o proprietário precisa seguir essas regras impostas pelo PCC, e caso haja desobediência, o PCC pode tomar o ponto e vendê-lo a outro criminoso.

De acordo com delegados do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), nas investigações dos mega-assaltos, foi descoberto que parte dos criminosos compra “biqueiras” com os recursos obtidos nessas ações, uma forma considerada segura de lavar o dinheiro.

O PCC, que foi fundado em 1993, com o propósito inicial de ser uma associação de assistência aos presos e seus familiares contra a “opressão do Estado”. No entanto, após Marco Willians Herbas Camacho assumir o comando da facção, entre o final de 2002 e o início de 2003, ela se transformou em uma espécie de empresa de tráfico de drogas. De acordo com integrantes da Polícia Federal, os principais chefes da facção não estão diretamente ligados ao tráfico das “lojas”, mas ao tráfico internacional, que é muito mais rentável.

Enfim, o controle do PCC sobre o tráfico de drogas no estado de São Paulo é uma realidade consolidada, e a facção criminosa exerce influência até mesmo sobre a decisão de quem pode ou não vender entorpecentes nas ruas. É um modelo de negócios que se assemelha a uma franquia, onde regras rígidas devem ser seguidas sob pena de punição. O domínio da facção criminosa sobre o tráfico de drogas no estado é um desafio para as autoridades policiais e a sociedade como um todo.

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