Discussão sobre rastreamento do câncer de próstata ganha força durante campanha do Novembro Azul em meio a recomendações divergentes.

Câncer de próstata: fazer ou não fazer exames de rastreamento?

Em meio às campanhas do Novembro Azul, período no qual se intensificam as recomendações para que homens cuidem de sua saúde e busquem o diagnóstico precoce do câncer de próstata, voltou a ganhar força uma discussão sobre a efetividade ou não do rastreamento populacional para a doença. A ação envolve orientação para que homens sem sintomas realizem os exames de PSA (de sangue) e de toque retal com o objetivo de detectar eventuais tumores em fase inicial.

Anos atrás, o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer (Inca) não recomendavam o rastreamento populacional, argumentando que estudos científicos verificaram que programas de rastreamento não têm grande impacto na redução da mortalidade pela doença e podem causar danos à saúde do homem. Isso ocorre porque parte dos tumores diagnosticados podem ser do tipo indolente, que crescem lentamente e dificilmente se espalham para outros órgãos, levando a tratamentos desnecessários e com possíveis sequelas.

Porém, algumas sociedades médicas destacam que esperar o homem manifestar algum sintoma da doença para orientá-lo a realizar os exames pode ser arriscado, dado que os cânceres de próstata em fase inicial geralmente não dão sinais claros. Assim, não fazer o rastreamento populacional poderia levar a diagnósticos de tumores em fase já avançada, quando as chances de cura são reduzidas e os tratamentos são mais sofridos.

O debate ganhou mais força com a recente publicação de uma nota técnica conjunta do Ministério da Saúde e do Inca, reafirmando a não recomendação do rastreamento, o que gerou reação de algumas sociedades médicas e especialistas. Além disso, a discussão foi parar nas redes sociais após a veiculação de uma esquete do canal Porta dos Fundos estrelada pelo ator Antônio Fagundes, que tratava de forma direta e bem-humorada a necessidade de realizar o exame de toque retal.

Diante das orientações dos órgãos de saúde, os homens não devem mais fazer os exames de rastreamento? Não é bem assim. Mesmo o ministério e o Inca, embora não recomendem campanhas para convocar indivíduos assintomáticos para a realização de PSA e toque retal, sugerem que homens, principalmente aqueles a partir dos 45 anos de idade, procurem um médico para uma avaliação individualizada e discussão sobre a realização ou não dos testes.

Homens que tenham algum fator de risco, como histórico de câncer de próstata na família, ou que apresentem algum sintoma suspeito, devem buscar um especialista. Apesar da controvérsia sobre o rastreamento, a busca por um médico é obrigatória nesses casos, já que o diagnóstico precoce pode aumentar significativamente as chances de cura. No entanto, a decisão de realizar os exames deve ser discutida individualmente com um profissional, levando em consideração a relação risco-benefício de acordo com cada caso.

Cabe ressaltar que o rastreamento ainda é um tema controverso. Certas sociedades médicas discordam do posicionamento do Ministério da Saúde e afirmam que o rastreamento deveria ser feito por todos os homens entre 50 e 70 anos. Estudos internacionais também têm suas limitações e foram contestados por especialistas, o que evidencia a falta de um consenso científico sobre o assunto.

Com o cenário socioeconômico e cultural do Brasil em mente, a contraindicação do Ministério da Saúde em relação ao rastreamento é ainda mais preocupante, já que os homens já buscam menos atendimento médico do que as mulheres. Há resistência, especificamente em relação ao exame de toque retal. Além disso, há preocupação sobre o acesso aos exames nas unidades do SUS diante da nota técnica federal. O presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia afirmou que “contraindicar tal procedimento restringe o acesso e tem potencial de grande prejuízo sobre a população de risco mais elevado”.

Portanto, a decisão sobre a realização ou não dos exames de rastreamento para o câncer de próstata deve ser individualizada, baseada em uma avaliação conjunta entre o paciente e o médico, levando em consideração os fatores de risco, as recomendações das sociedades médicas e os riscos e benefícios dos testes. A busca por um especialista para discutir o assunto continua sendo a melhor atitude a ser tomada, independente das recomendações do Ministério da Saúde. O foco deve ser a conscientização sobre a importância do cuidado com a saúde do homem e o diagnóstico precoce do câncer de próstata.

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