Produção de combustíveis fósseis deve dobrar até 2030, ameaçando metas do Acordo de Paris, aponta novo relatório da ONU.

A produção global de combustíveis fósseis nos próximos anos está muito aquém do necessário para cumprir as metas do Acordo de Paris, alerta um novo relatório publicado nesta quarta-feira. Segundo o documento, os planos governamentais indicam que a produção de petróleo, gás e carvão em 2030 deve ser 110% maior do que o necessário para limitar o aquecimento global a 1,5°C e 69% maior do que seria consistente com um planeta 2°C mais quente. Isso se traduz em 22 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente a mais emitidas em relação ao necessário para cumprir as metas de temperatura.

O relatório, produzido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, pelo Instituto Ambiental de Estocolmo, Climate Analytics, E3G e Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável, destaca que a lacuna de produção permaneceu praticamente inalterada em comparação com avaliações anteriores, apesar dos sinais encorajadores de uma transição para energias limpas.

A ciência aponta há décadas que é essencial haver um corte drástico na quantidade de dióxido de carbono jogada na atmosfera para evitar um aquecimento catastrófico do planeta. No entanto, as emissões de CO2 provenientes de combustíveis fósseis continuam crescendo e chegaram a um novo recorde em 2022. Países como Alemanha, Arábia Saudita, Austrália, Brasil, Canadá, China, Estados Unidos, Índia, Reino Unido e Rússia, que juntos respondem por cerca de 80% da produção global de petróleo, gás e carvão, devem aumentar ainda mais a produção desses combustíveis nos próximos anos.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, classificou o novo relatório como uma “acusação alarmante do descuido climático descontrolado”, afirmando que os governos estão literalmente dobrando a aposta na produção de combustíveis fósseis.

Dentro desse cenário, o Brasil é um dos países que ajudam a puxar para cima a tendência de aumento na produção de combustíveis fósseis. O país é hoje o oitavo no mundo na produção de óleo, 27º na produção de gás e 29º de carvão. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, anunciou planos para escalar a produção nacional e tornar o Brasil o quarto maior produtor global de petróleo. Isso seria contrário ao necessário para limitar o aquecimento global a 1,5°C, conforme definido pelo Acordo de Paris.

Em um momento em que as discussões sobre a transição energética se tornam cada vez mais urgentes, o relatório faz um apelo para que os governos adotem metas de redução a curto e longo prazo para a produção e utilização de combustíveis fósseis, além de destacar a necessidade de uma divisão de responsabilidades entre os países. A lacuna entre a produção de fósseis e a redução de emissões acordada no Acordo de Paris conflita com as metas climáticas globais e os compromissos de zerar emissões líquidas anunciados pelos países.

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