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Mães em Luto da Zona Leste: a luta pela justiça e investigação das mortes de jovens nas periferias de São Paulo

Mães em Luto na Zona Leste: um movimento de força e resistência

Quando a dor da perda se torna parte da realidade de uma mãe, surge um sentimento de luto e indignação que não pode ser ignorado. Esse é o caso das mulheres trabalhadoras da Zona Leste de São Paulo, que se uniram para reivindicar a memória de seus filhos, dar nome e rosto às estatísticas e cobrar investigação das autoridades. Elas se tornaram um movimento de força e resistência, conhecido como “Mães em Luto da Zona Leste” (MLZL), que está pressionando o Estado em diversas instâncias governamentais para revelar a verdade sobre cada morte.

O movimento teve início em novembro de 2015, após a atuação de Solange de Oliveira Antonio, uma mãe de três filhos da periferia de Sapopemba, na zona leste da cidade. A história dela é marcada pela trágica perda de seu filho, Victor Antonio Brabo, que foi morto aos 20 anos de idade por um policial civil do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra), no bairro de Perdizes, na zona oeste de São Paulo. Dois anos após a morte de Victor, Solange conseguiu acesso às filmagens das câmeras de segurança do banco que mostravam a verdade sobre a morte de seu filho. Ele não representava ameaça alguma, mas mesmo assim foi alvejado e não resistiu.

Em entrevista ao Expresso na Perifa, Solange falou sobre sua jornada e a dificuldade de lidar com a ausência de seu filho. Ela destaca a necessidade de justiça para as vítimas e a importância de revelar a verdade por trás de cada morte.

O movimento foi ganhando força e, em maio de 2016, a página do Mães em Luto da Zona Leste foi criada no Facebook, dando início a uma jornada de luta e organização. O Centro de Direitos Humanos de Sapopemba se tornou um espaço de apoio e encontro para as mães da região, assim como de outras localidades. Atualmente, o movimento é formado por mães que moram em diferentes bairros, mas todas se reúnem na Zona Leste para discutir estratégias e ações.

O ápice desse movimento de resistência foi a criação do livro “Mães em Luta”, escrito por sete mulheres e publicado em 2023. A obra fala sobre as histórias dos jovens mortos, dos casos arquivados, dos maus tratos institucionais e faz uma homenagem especial às “Mães de Acari”, movimento que lutou por justiça após a Chacina de Acari, no Rio de Janeiro, em 1990.

Além das histórias de Solange e de outras mães, o movimento também é liderado por Marcia Yara Conti, que coordena o Movimento Mães da Leste Independente. Ela defende o uso de câmeras nos uniformes policiais em São Paulo, sem a possibilidade de desligamento, para assegurar punições imediatas em casos de abuso policial.

Apesar das dificuldades e da dor enfrentada, as mães continuam firmes em sua luta por justiça, unidas pelo luto e pelo desejo de garantir que a memória de seus filhos seja honrada. O movimento continua a crescer e a ganhar força, promovendo encontros e debates para conscientizar a sociedade sobre a violência policial nas periferias. São mulheres trabalhadoras que se uniram na dor, mas encontraram força e coragem para enfrentar as autoridades e exigir justiça para aqueles que já não podem mais lutar por si mesmos. A luta dessas mães é um exemplo de resistência e esperança em um país onde a violência e a impunidade muitas vezes parecem prevalecer.

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