Líder do maior grupo étnico de Angola visita região da Pequena África, no Rio de Janeiro, repleta de traços da herança africana.

Posicionado na região portuária do Rio de Janeiro, o bairro conhecido como Pequena África guarda uma poderosa herança da chegada dos africanos escravizados durante o período colonial. Nesta terça-feira (7), o local serviu como palco para a visita do líder do maior grupo étnico de Angola, Ekuikui VI Tchongolola Tchongonga.

Ekuikui VI é o monarca do reino do Bailundo, situado no Planalto Central da República de Angola. Com uma liderança baseada em tradições antigas, o reino foi estabelecido por volta de 1700 e já contou com o status de independente. Apesar de não ser reconhecido como um estado nos dias atuais, o rei exerce influência sobre a comunidade tradicional local.

A visita à região do Cais do Valongo, histórico porto que teria recebido cerca de um milhão de africanos escravizados, tem um significado simbólico para a primeira viagem do rei ao Brasil. Atualmente, 56% da população do país se declara negra, o que engloba pretos e pardos.

Ao justificar sua presença no Brasil, Ekuikui VI destacou a importância de estreitar laços com seus irmãos e diminuir a saudade gerada pela longa distância. Mesmo com o português como língua oficial em Angola, o monarca fez questão de se comunicar com a imprensa em umbundu, a segunda língua mais utilizada no país africano, contando com a interpretação do embaixador do reino, Castelo Ekuikui.

O líder tradicional angolano ressaltou que a visita representa o cumprimento de um desejo ancestral, que sempre almejou a oportunidade de visitar o Brasil em busca de seus filhos que foram brutalmente tirados da África. Ekuikui VI também enfatizou que os negros escravizados não eram filhos de escravos, mas sim descendentes de reis e rainhas africanas.

Além do aspecto simbólico, a passagem do monarca pelo Brasil também tem o intuito de constatar e preservar a herança cultural africana no país, destacando a relevância do trabalho realizado pelos africanos escravizados e seus descendentes na construção da nação brasileira.

A visita de Ekuikui VI ao Brasil também é uma oportunidade para reforçar a diversidade e o respeito, segundo o babalaô Ivanir dos Santos. Ele ressalta que a presença do líder é significativa para a dignidade, resistência e celebração da população negra no Brasil, sinalizando um caminho para a valorização e reconhecimento da diversidade cultural e étnica do país.

A região da Pequena África, que abriga o Cais do Valongo, o Cemitério dos Pretos Novos e a Pedra do Sal, é marcada pela influência e herança da ancestralidade africana. Este local simboliza a presença e a luta por resistência e liberdade da população negra, representando um importante marco na história cultural do Rio de Janeiro.

Com 39 anos de idade, Ekuikui VI Tchongolola Tchongonga, 37º soberano do reino do Bailundo, já passou por São Paulo e Santa Catarina antes de chegar ao Rio de Janeiro. Durante sua estadia na cidade, o líder tradicional também terá a oportunidade de conhecer o Complexo de Favelas da Maré e o Quilombo do Camorim, promovendo a valorização das comunidades periféricas em parceria com a empresa de comunicação DiversaCom e o centro de estudos UNIperiferias.

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