Os dados sobre o uso do tempo disponíveis no Brasil mostram que as mulheres dedicam mais horas do que os homens ao trabalho doméstico e de cuidado. Desde cedo, elas são responsáveis pelas tarefas do lar, como preparar o jantar, lavar a louça e cuidar dos irmãos mais novos. Essas responsabilidades moldam suas conexões com algo essencial para todos: a reprodução cotidiana da vida.
Enquanto as mulheres têm em média mais estudo do que os homens, o salário médio deles é superior ao delas. Além disso, as taxas de desemprego e informalidade são maiores entre as mulheres. A desigualdade de gênero no mercado de trabalho é evidente.
No entanto, não devemos limitar o argumento apenas à desigualdade de gênero. A redação do Enem vai além disso, abordando questões de classe e raça. No Brasil, são as mulheres negras que mais frequentemente desempenham trabalhos informais e de baixa remuneração, relacionados ao cuidado e ao universo doméstico. Essas mulheres enfrentam os maiores desafios para cuidar de seus entes queridos e receber cuidado em troca. A falta de creches, a baixa remuneração e a insegurança financeira limitam suas opções, contribuindo para a dura realidade do “matriarcado da miséria”.
É importante destacar que a responsabilização desigual pelo cuidado não afeta apenas as mulheres, mas também beneficia homens e mulheres brancas, que podem transferir esse trabalho para outras mulheres, principalmente mulheres negras. Essa exploração do trabalho de outras pessoas é uma característica das relações de gênero, raça e classe na sociedade.
O tema do cuidado é crucial, pois os seres humanos são frágeis e precisam de cuidado ao longo de toda a vida. Além disso, com um país cada vez mais envelhecido e com arranjos familiares mais variados, a necessidade de cuidado se torna ainda mais relevante. No entanto, as relações de trabalho precárias e a falta de recursos, incluindo tempo, dificultam o cuidado adequado.
Ao trazer o tema do trabalho invisível de cuidado, o Enem propõe aos jovens que reflitam sobre as bases em que nossa sociedade está fundamentada. É necessário pensar em alternativas políticas e em um pensamento coletivo para construir uma sociedade em que o cuidado seja valorizado e justo para todos.