Repórter São Paulo – SP – Brasil

A exploração mortal das balas perdidas: uma prática perigosa que custa vidas e permanece impune

A tragédia de Naya, uma criança de apenas sete anos, que foi atingida por uma bala perdida enquanto brincava no parquinho de sua escola, gerou uma onda de indignação nas redes sociais. A história comoveu muitas pessoas, que se sentiram impotentes diante de um crime tão cruel e aleatório. Infelizmente, casos como esse são mais comuns do que pensamos e, muitas vezes, o único nome que ouvimos é o da vítima, enquanto o culpado permanece anônimo, livre para seguir com sua vida.

Hasmik Harpoyan entende o sofrimento da família de Naya, mesmo sem conhecê-los pessoalmente, pois seu próprio filho, V. Christ, sobreviveu milagrosamente a um incidente semelhante. Enquanto jogava futebol em um estádio, Christ foi atingido por uma bala entre as costelas, que ainda está cravada em seu peito. O menino não se lembra de ter ouvido o som dos disparos, apenas sentiu uma dor intensa e não conseguia respirar. Felizmente, seu treinador o levou imediatamente ao hospital, onde recebeu tratamento adequado.

A família de Christ foi aconselhada pela polícia a registrar uma denúncia anônima, mas a identificação do atirador foi impossível. Isso ocorre com frequência no Líbano, onde disparos para o alto são ilegais, mas raramente resultam em punição. Muitas vezes, os atiradores estão protegidos por líderes políticos e qualquer acusação pode resultar em perseguição.

Essa impunidade é um problema sério e reflete a falta de resposta efetiva das autoridades. Um estudo recente mostrou que, em uma véspera de Ano-Novo, 242 suspeitos foram identificados por disparos comemorativos, mas apenas dois permaneceram presos. Isso levanta questionamentos sobre o poder e a influência que alguns atiradores possuem para escapar das consequências de seus atos.

Para entender a letalidade das balas disparadas para cima, diversos estudos foram realizados. Apesar de as balas terem velocidade reduzida quando estão em queda, ainda podem ser fatais. A velocidade terminal de uma bala depende de vários fatores, mas estudos indicam que velocidades acima de 61 m/s podem penetrar o crânio humano. Especialistas em cultura de armas argumentam que essa prática está enraizada em pressupostos culturais que associam as armas à masculinidade e ao ego, mas também pode ter sido influenciada por cerimônias militares que envolvem salvas de tiros.

Apesar das campanhas de sensibilização e da condenação das autoridades religiosas e políticas, os disparos comemorativos continuam ocorrendo. No entanto, algumas pessoas começam a questionar e abandonar esse hábito. Ayman, um ex-atirador que costumava atirar para o alto aleatoriamente, sentiu remorso quando soube das mortes causadas por balas perdidas. Ele percebeu que ninguém lhe disse que esse comportamento não é masculino e que é proibido por todas as religiões, devido ao risco de morte.

A prática de disparos para o alto ocorre em vários países, como Oriente Médio, norte da África, América do Sul, Balcãs e algumas partes da Ásia. Embora também ocorra nos EUA, há relatos de que está mais associada à violência nas ruas do que a comemorações. Infelizmente, há vários exemplos de mortes e ferimentos causados por balas perdidas em celebrações, como casamentos e feriados.

É essencial que as autoridades ajam para combater essa prática perigosa e, mais importante, garantir que aqueles que dispararem balas perdidas sejam responsabilizados por suas ações. A impunidade não pode ser tolerada quando vidas inocentes estão em jogo. O caso de Naya e a história de Christ são exemplos trágicos de como uma ação irresponsável pode trazer consequências devastadoras para famílias inteiras.

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