Vinícolas e olivícolas em Mendoza se adaptam às mudanças climáticas para garantir a produção de vinhos e azeites de qualidade

Em Mendoza, capital do vinho e do azeite argentinos, as mudanças climáticas têm tido um impacto significativo nas vinícolas e olivícolas da região. Situada sobre um deserto aos pés da Cordilheira dos Andes, a cidade já vive há muitos anos com a falta de água. A redução da neve nas montanhas no inverno tem afetado o abastecimento dos rios, reservatórios e plantações.

Para lidar com os desafios apresentados pelas mudanças climáticas, as vinícolas têm adotado diferentes estratégias. Algumas têm antecipado as colheitas e buscado áreas mais altas com climas mais frescos para o cultivo das uvas. Além disso, têm diversificado os tipos de uva a fim de preservar a qualidade dos vinhos e adotado sistemas de irrigação por gotejamento e impermeabilização dos canais para evitar a perda de água.

Um exemplo disso é a Catena Zapata, eleita a melhor vinícola do mundo, que possui sua sede em Luján de Cuyo, região de Mendoza. Apesar disso, os melhores vinhos não são produzidos lá, mas sim no Vale do Uco, a 70 km ao sul e a 1.500 metros de altura.

O aumento das temperaturas e a redução da neve têm proporcionado mudanças na região. Gonzalo Carrasco, enólogo da vinícola Rutini, afirma que a temperatura nessa área era extremamente fria antigamente, mas agora não é mais. Essa mudança de clima tem atendido a demanda do mercado por vinhos mais frescos e menos fortes.

No entanto, a região está chegando ao seu limite. As vinícolas têm aprofundado seus poços em busca de água, mas a falta desse recurso é uma preocupação constante. O governo provincial controla o “direito de rega” dos produtores e também tem incentivado a impermeabilização dos canais com concreto e o uso de sistemas de irrigação mais eficientes, como o gotejamento.

Outro desafio enfrentado pelas vinícolas são as geadas frequentes e fora de época, que podem prejudicar o cultivo das uvas. Algumas vinícolas têm utilizado a técnica dos iglus, cobrindo as plantas com uma malha e gotejando água sobre ela para criar uma camada que preserva o calor das videiras.

Além das adaptações técnicas, há também a busca pela diversificação e pelo entendimento da natureza como um todo. Veronica Riccitelli, sócia da marca homônima de vinho, destaca a importância de não ver a vinícola como monocultura, mas sim como biodiversidade, plantando outras coisas junto às uvas e descobrindo quais uvas se adaptam melhor em cada lugar.

Apesar de uma trégua proporcionada pelo fenômeno El Niño nos últimos meses, que aumentou um pouco a quantidade de neve nas cordilheiras e garantiu a água do próximo verão, a seca e os eventos extremos continuarão sendo uma constante em Mendoza. A região precisará continuar enfrentando os desafios impostos pelas mudanças climáticas e se adaptar para garantir a qualidade e a sustentabilidade de seus vinhos.

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