Pajé Tereza Kariri: A luta incansável pela resgate indígena no Ceará

A pajé Tereza Kariri, uma das mulheres responsáveis pelo resgate indígena no sertão do Ceará, deixou como legado o mandamento “Não fugir da luta”. Na década de 1980, os povos indígenas eram considerados extintos no estado, até que algumas lideranças iniciaram um levante para reerguer as aldeias. Tereza Kariri, acompanhada de sua filha Cristina Kariri, se dedicou a essa causa, percorrendo Crateús em busca de “parentes”.

Essa ideia de mapeamento das comunidades indígenas surgiu da indigenista Ana Maria Amélia, que conheceu Tereza Kariri em uma romaria em Canindé, em 1988. A pesquisadora trabalhava na Missão Tremembé, no litoral do Ceará, onde iniciou o processo de retomada indígena no estado.

Tereza Kariri, ao ser questionada sobre sua origem, inicialmente negou, cumprindo assim uma promessa feita a sua avó de não revelar suas raízes. No entanto, após muita insistência da indigenista, ela se tornou a primeira pessoa a se assumir indígena em Crateús e a primeira da etnia Kariri no Ceará.

Nascida como Roquelina Alves Rodrigues, no Crato, Tereza adotou o nome de uma prima que faleceu jovem. Criada pela tia após a morte de sua mãe no parto, ela frequentou uma escola de freiras, mas precisou abandonar os estudos para trabalhar.

Foi na década de 1950, quando acompanhou uma família como babá para Crateús, que Tereza Kariri conheceu seu marido, Antonio Jovelino, da etnia Tabajara. Seu trabalho e dedicação foram fundamentais para tornar a região a mais diversa em termos étnicos do estado, inspirando povos tanto no Ceará quanto no Piauí.

Além de curandeira, Tereza Kariri também era conhecida por ensinar os costumes indígenas aos seus netos, como a pesca e o artesanato. Ela também compartilhava histórias sobre a origem de sua família na aldeia Marrecas, que foi dizimada em um etnocídio.

A pajé tinha uma paixão pela música e pela poesia, sempre carregando cadernos onde registrava suas composições. Em uma de suas canções, ela expressou que a luta indígena pode ser árdua, mas que vale a pena.

Tereza Kariri precisava de um marcapasso e, no último ano de sua vida, também necessitava de uma bala de oxigênio devido a um enfisema pulmonar. Infelizmente, ela faleceu de parada cardíaca no dia 11 de outubro, um mês após a morte de sua filha Cristina. Tereza deixa para trás cinco filhos, Eliane, Zezinho, Tetê, Antônio Elson e Quinquinha, e 11 netos.

O legado de luta e resgate da identidade indígena deixado por Tereza Kariri é um exemplo inspirador para as comunidades indígenas do Ceará e do Brasil como um todo. Sua coragem e dedicação ficarão marcadas na história.

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