Avanço da mineração em Mariana causa remoções e cria cidades fantasmas, enquanto famílias lutam por reparação integral.

O documentário “Fantasmas da Lama” lançado pela Folha neste domingo (5) aborda a luta das famílias atingidas pelo desastre de Mariana (MG) há oito anos e o avanço da mineração na região, que resultou em remoções forçadas e na criação de cidades fantasmas.

O subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana, foi o primeiro local atingido pelo rompimento da barragem de rejeitos de mineração da Samarco, formada pela Vale e BHP Billiton, em novembro de 2015. Esse desastre ambiental, considerado um dos maiores do mundo, não foi um caso isolado no Brasil, tendo em vista que outra barragem da Vale em Brumadinho (MG) estourou em janeiro de 2019, resultando na morte de 270 pessoas. No entanto, até o momento, nenhuma punição criminal foi aplicada em ambos os casos.

Neste contexto, a equipe da Folha retornou ao local oito anos depois para acompanhar o processo de reparação das famílias atingidas pelo desastre de Mariana, que ainda está em curso. Além disso, o documentário mostra a situação de abandono daqueles que não conseguiram chegar a um acordo de realocação com as mineradoras e agora residem em uma cidade abandonada. Também é retratada a conclusão das obras do reassentamento de Novo Bento Rodrigues, construído para receber aqueles que aceitaram o plano de reparação e está em estágio final de construção.

Enquanto as famílias de Mariana batalham por uma reparação justa, a área destinada à mineração continua se expandindo e gerando impactos diretos na população. Organizações de atingidos têm utilizado o termo “terrorismo de barragem” para descrever a atuação das empresas, que utilizam o risco como uma forma de pressão para realizar as remoções necessárias para a mineração. A dependência econômica da região em relação à mineração contribui para esse processo.

A evolução dos reassentamentos tem sido lenta, causando incerteza e desesperança nas famílias em relação à possibilidade de resgatar suas comunidades e modos de vida originais. Além disso, há atrasos na entrega das residências e algumas delas foram construídas em terrenos diferentes dos originais, o que altera significativamente os hábitos e modos de vida da população.

Diante dessa realidade, muitos antigos moradores de Bento Rodrigues já faleceram antes de terem a chance de habitar suas novas casas. Marcos Muniz, aposentado e ex-morador de Bento Rodrigues, lamenta a perda do espaço onde nasceu e foi criado, e de toda a memória associada a ele.

O documentário revela uma realidade complexa e desafiadora para as famílias atingidas pelo desastre de Mariana, que lutam por uma reparação justa e pela preservação de sua identidade e cultura em meio ao avanço da mineração na região. A falta de punição para os responsáveis pelas tragédias também é uma questão crucial, levantando debates sobre a necessidade de justiça para as vítimas.

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