Hidrogel brasileiro de baixo custo acelera cicatrização de feridas crônicas em pessoas com diabetes, indica estudo com camundongos

Pesquisadores brasileiros desenvolveram um hidrogel de baixo custo com propriedades anti-inflamatórias que pode se tornar uma alternativa eficaz no tratamento de feridas crônicas na pele, especialmente em pessoas com diabetes. Os resultados promissores dos testes em animais foram divulgados na revista Biomedicine & Pharmacotherapy.

Segundo a Federação Internacional de Diabetes, o Brasil é o sexto país com o maior número de pessoas afetadas pela doença, que se tornou uma epidemia e é considerada a quinta causa de morte no mundo. Pessoas com diabetes frequentemente lidam com complicações dermatológicas, como dificuldade na cicatrização de feridas, devido ao comprometimento da secreção e ação da insulina. Estima-se que um em cada cinco pacientes diabéticos possa desenvolver feridas crônicas, como as úlceras no pé diabético.

Em indivíduos saudáveis, lesões cutâneas são seguidas por uma série de eventos que levam à cicatrização, como a formação de vasos sanguíneos e a deposição de colágeno. No entanto, em casos de diabetes, o processo de cicatrização é mais complexo. A hiperglicemia aumenta a produção de substâncias inflamatórias e prejudica a formação de vasos sanguíneos, dificultando o processo de cicatrização.

Nesse contexto, os hidrogéis biológicos têm sido amplamente estudados pela capacidade de acelerar o processo de cicatrização de feridas, devido ao ambiente úmido e estéril que proporcionam. No estudo em questão, financiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), pesquisadores das universidades Estadual Paulista (Unesp) e Federal de São Paulo (Unifesp) desenvolveram um hidrogel à base da proteína anexina A1, cujo envolvimento na regulação da inflamação e da proliferação celular já tinha sido comprovado por pesquisas anteriores do mesmo grupo.

Os testes foram realizados em camundongos que apresentavam características semelhantes ao diabetes tipo 1. Os resultados indicaram uma diminuição das células inflamatórias três dias após a indução das lesões e cicatrização completa das feridas em 14 dias. Em contraste, os animais que não receberam tratamento apresentaram lesões mais intensas no terceiro dia, característica comum da fase aguda da inflamação.

A análise mostrou que o tratamento com o hidrogel promoveu a regeneração do tecido pela proliferação de queratinócitos, redução de macrófagos e aumento do fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), que estimula o crescimento de vasos sanguíneos. Além disso, o produto demonstrou ser biocompatível e seguro para aplicação tópica, de acordo com um ensaio de citotoxicidade.

A pesquisadora Sonia Maria Oliani, coordenadora do estudo, destaca que o hidrogel desenvolvido é altamente absorvente, mantendo o meio úmido ideal para a cicatrização e mostrando eficácia na obtenção da cicatrização completa da lesão, além de reduzir o tempo de cicatrização. Ela ressalta que essa descoberta representa uma opção eficiente e que poderá ampliar o tratamento de feridas diabéticas.

Outra vantagem do hidrogel é a facilidade de produção e o baixo custo, sendo um fator fundamental para países como o Brasil. O produto também possui potencial para ser utilizado no tratamento de lesões na mucosa bucal, e pesquisas nesse sentido estão em andamento.

Os custos médicos relacionados ao diabetes na América do Sul e Central são extremamente elevados, ultrapassando os US$65,3 bilhões. Por isso, ter um tratamento de baixo custo e eficaz pode representar um grande avanço na área da saúde. Espera-se que, no futuro, o hidrogel desenvolvido pelos pesquisadores brasileiros possa ser uma opção viável para o tratamento de feridas crônicas na pele em pacientes diabéticos, melhorando a qualidade de vida e reduzindo a morbidade associada à doença.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo