Brasil mediou conflito no Oriente Médio sem atuar politicamente, apontam especialistas

Durante o mês em que esteve à frente do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), o Brasil desempenhou um papel de mediador e árbitro no conflito no Oriente Médio. De acordo com três especialistas consultados pela Agência Brasil, o Brasil atuou como um facilitador, buscando construir um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, em vez de tomar partido no conflito.

O Brasil assumiu a presidência do Conselho de Segurança em um momento de grande tensão na política internacional. Liderou as tentativas de acordo entre os membros do Conselho, visando a um cessar-fogo na região, porém todas as propostas de resolução foram rejeitadas. A proposta brasileira foi vetada pelos Estados Unidos, apesar de ter recebido a maioria dos votos.

O professor de história contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF), Bernardo Rocher, ressaltou que a diplomacia brasileira procurou atuar como um mediador imparcial, sem tomar partido no conflito. Destacou-se o esforço para buscar um acordo de cessar-fogo e criar um corredor humanitário para a população de Gaza que estava sofrendo bombardeios. O Brasil agiu como um gerente da causa, em vez de ser um ator político, segundo Rocher.

Apesar de ter sido bem visto pelos países árabes, essa postura do Brasil desgastou um pouco as relações com os Estados Unidos e Israel. O professor Rocher destacou que Israel exige uma submissão total às suas posições, enquanto os Estados Unidos não veem com bons olhos outros países assumindo a liderança em momentos como esse.

Por outro lado, o professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Paraná, Eduardo Saldanha, afirmou que o papel de mediador exercido pelo Brasil inviabiliza negociações com Israel. Saldanha argumentou que o Brasil teria que considerar o Hamas como um grupo terrorista para negociar diretamente com Israel. Ele considerou a ausência de firmeza do Brasil como uma fraqueza da diplomacia brasileira.

No entanto, Gustavo Mendes de Almeida, pesquisador do Observatório de Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil (Opeb), considerou que o Brasil acertou ao não se vincular diretamente a Israel e ao condenar os ataques do Hamas. Para Almeida, a ampla aceitação da resolução proposta pelo Brasil, apesar do veto dos Estados Unidos, demonstra que a diplomacia brasileira planejou e articulou bem sua atuação.

A atuação do Brasil na presidência do Conselho de Segurança fortalece o pleito do país por um assento permanente no órgão. O Brasil tem uma história de atuação pacífica no sistema internacional e demonstrou sua importância como agente moderador na busca pela paz, concluiu Almeida.

Ficando à frente do Conselho de Segurança das Nações Unidas em um momento crítico, o Brasil buscou atuar como mediador e árbitro, buscando um acordo de cessar-fogo e criando um corredor humanitário em Gaza. Apesar de não ter obtido sucesso nas resoluções propostas, a atuação brasileira foi vista positivamente pelos países árabes, mas gerou um desgaste nas relações com Estados Unidos e Israel. A postura de imparcialidade adotada pelo Brasil foi elogiada por alguns especialistas, mas criticada por outros, que a consideraram uma fraqueza da diplomacia brasileira. Por outro lado, a atuação do Brasil fortalece a pretensão do país em ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança. A importância dada à diplomacia brasileira na busca pela paz foi reconhecida e elogiada pelos especialistas.

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