Manipulação de fotos com rostos de adolescentes em corpos nus destaca misoginia e falta de educação digital no colégio católico

Estudantes do colégio Santo Agostinho, com idades entre 14 e 16 anos, realizaram uma ação perturbadora ao manipular fotos, utilizando inteligência artificial para colocar rostos de adolescentes do sexo feminino em corpos nus. Esse ato evidencia um sério problema de misoginia precoce, o qual está associado à falta de orientação sobre igualdade de gênero e educação digital, questões que precisam ser abordadas tanto pela escola quanto pelos pais dos jovens. Além disso, é importante responsabilizar os garotos envolvidos.

No entanto, é fundamental discutir outro aspecto desse caso: por que as mulheres ainda sofrem punições relacionadas à nudez? Por que o nu feminino é utilizado como forma de humilhação, intimidação e extorsão? Diferentemente dos homens e meninos, que frequentemente são celebrados quando seus corpos são expostos, as mulheres se sentem envergonhadas e sofrem consequências psicológicas e traumas quando têm sua intimidade invadida dessa forma.

Os verdadeiros criminosos tiram proveito do tabu que ainda existe em relação ao corpo feminino nu, tratando-o como um estigma, algo que deveria provocar vergonha. Não é à toa que o vocabulário atual ganhou uma nova palavra para descrever um fenômeno que surge nesses tempos modernos: sextorsão, que consiste na extorsão financeira com base na exposição da intimidade. Não surpreende que a maioria das vítimas sejam mulheres, em uma sociedade que ainda luta para alcançar a equidade de gênero.

No contexto da nudez e da sexualidade, o corpo da mulher parece ser considerado propriedade masculina, o que explica os casos de chantagem em que o sexo não é utilizado como moeda de troca, mas sim como forma de intimidação. É nesse contexto que as adolescentes do colégio religioso se encontram, enfrentando o medo da estigmatização causada pela exposição indevida de corpos que não lhes pertencem. Elas foram violadas em sua intimidade e agredidas psicologicamente.

Recentemente, a atriz Deborah Secco destacou que a nudez da mulher nunca foi um problema quando gerava lucro para os homens. Ela questiona por que a nudez feminina causa incômodo quando se trata de seu próprio empoderamento e enriquecimento. Em um artigo escrito pelo médico Drauzio Varella em 2017, ele afirma que a sociedade controla o corpo feminino por meio de imposições sociais que restringem a liberdade das mulheres. De todas essas imposições, a mais odiosa é a apropriação indébita do corpo feminino.

É reconfortante observar que as novas gerações estão desenvolvendo uma relação mais saudável com seus corpos e a sexualidade. Elas estão começando a perceber que precisam se libertar das imposições estéticas e tratar o sexo como um direito seu, não como uma concessão patriarcal. Além disso, essas jovens abraçam a nudez no Carnaval, em um esforço para se libertarem da opressão e do julgamento ao longo de suas vidas. Elas estão deixando de ser reféns da moralidade que violenta o seu gênero.

Há alguns anos, nos Estados Unidos, li uma reportagem sobre uma adolescente de 16 anos que postou suas próprias fotos nuas nas redes sociais, após ter sido ameaçada de exposição por seu ex-namorado. Além de denunciar o agressor, ela afirmou que ninguém teria controle sobre o seu corpo. Na prática, ela assumiu a situação e recebeu o apoio do público. Sabemos que nem sempre é assim, mas tratar a nudez e o sexo com a naturalidade que deveriam ser tratados pode ser um caminho para começar a desconstruir a misoginia presente em nossa sociedade.

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