A persistência de Leolinda Daltro: a tenacíssima combatente em prol do feminismo e da emancipação das mulheres

No dia 24 de setembro de 1918, o jornal A Época recebeu a visita de duas mulheres que chamaram a atenção do redator. Uma delas era Izabel de Mattos Dillon, considerada a primeira eleitora do Brasil. A outra era a professora baiana Leolinda de Figueiredo Daltro, que veio reclamar mais espaço na imprensa para sua luta pela emancipação das mulheres.

O título escolhido para a matéria, “Uma visita da tenacíssima combatente em prol do feminismo”, ressalta a determinação e persistência de Leolinda, características incomuns para uma mulher na época. O adjetivo “tenacíssima” era normalmente usado para descrever homens que participavam da política e ocupavam a esfera pública.

A trajetória de Leolinda foi marcada por críticas e desafios. Ela construiu alianças com políticos influentes, subverteu convenções sociais, ocupou espaços públicos e denunciou abusos. Sua atuação abriu caminhos sem volta para as mulheres na política.

Nascida na Bahia por volta de 1860, Leolinda foi professora municipal no Rio de Janeiro e lecionava gratuitamente para trabalhadores, meninas e mulheres. Ela acreditava que a educação era a chave para acabar com o sofrimento dos desassistidos e alcançar a verdadeira emancipação dos povos.

Além de sua carreira como professora, Leolinda também se dedicou a instruir os indígenas Xerentes por meio de uma educação laica. Essa atitude escandalosa e arriscada despertou a fúria de posseiros e da igreja, que não aceitavam a interferência dela nas comunidades indígenas.

Ao retornar para o Rio, Leolinda continuou seu trabalho como professora municipal e hospedava grupos de indígenas em sua casa, buscando sua integração pacífica na sociedade. Sua militância também foi fundamental para a criação do Serviço de Proteção aos Índios e Localização dos Trabalhadores Nacionais (SPILTN), mesmo que ela não tenha sido nomeada para liderá-lo por ser mulher.

Em 1910, Leolinda fundou a Junta Feminina Hermes-Venceslau para apoiar a candidatura do marechal Hermes da Fonseca à presidência. Ela também lançou o Partido Republicano Feminino (PRF), que contava com mais de 4.000 afiliadas.

Leolinda enfrentou várias acusações e tragédias pessoais, como a morte do segundo marido e de um filho, a epidemia da cólera e um acidente de carro que a impediu de participar de um congresso feminista. A escritora feminista Maria Lacerda de Moura defendeu Leolinda em uma carta publicada no Diário Carioca, ressaltando seu pioneirismo na luta pela emancipação das mulheres.

Leolinda Figueiredo Daltro faleceu em 1935, vítima de um atropelamento. Sua coragem, dedicação à educação e pioneirismo na luta feminista são lembrados como seu legado.

A série Mátria Brasil, lançada em maio deste ano, apresentou 27 mulheres relevantes na história do país. O texto sobre Leolinda encerra o projeto, que foi idealizado pela professora Patrícia Valim, da Universidade Federal da Bahia, e contou com a participação de historiadores de várias regiões do Brasil.

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