Desertificação ameaça terras no Piauí, mas agricultores resistem e buscam soluções criativas para sobreviver

No município de Gilbués, no Piauí, o pecuarista Ubiratan Lemos Abade enfrenta um desafio constante: a desertificação. A região, conhecida como a maior zona de desertificação do Brasil, é caracterizada por uma paisagem árida e marcada por crateras vermelhas que lembram o planeta Marte. A erosão do solo, a expansão descontrolada e o desmatamento foram fatores que contribuíram para intensificar esse fenômeno, afetando diversas propriedades rurais.

Apesar das adversidades, muitas famílias que dependem da agropecuária se recusam a deixar suas terras e encontram na criatividade uma forma de enfrentar os desafios e chamar atenção para o problema. Abade, por exemplo, precisou investir em sistemas de irrigação para garantir a sobrevivência de suas vacas e, consequentemente, a sua própria.

Ao apontar para um campo de capim seco que morreu por falta de água e para outro exuberante que foi irrigado, Abade demonstra a importância da tecnologia para a produção na região. No entanto, para aqueles que não possuem recursos financeiros suficientes, essa realidade se torna ainda mais difícil.

Gilbués, que possui uma área maior que a cidade de Nova York, é considerado um “deserto” devido à sua paisagem árida. O problema da erosão já existia há tempos na região, sendo agravado pelas atividades humanas como o desmatamento e a expansão urbana. O crescimento da cidade, que atualmente possui 11 mil habitantes, contribuiu para o agravamento da desertificação.

Segundo um estudo realizado por Dalton Macambira, da Universidade Federal do Piauí, a área afetada pela desertificação mais que dobrou de 1976 a 2019, prejudicando cerca de 500 famílias de agricultores. Os agricultores também têm observado uma redução nas chuvas e uma intensificação nas precipitações, o que agrava ainda mais o problema.

Além disso, especialistas afirmam que o aquecimento global pode contribuir para intensificar a desertificação em regiões já afetadas pela degradação ambiental. Para a ONU, a desertificação é uma crise silenciosa que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo e é causadora de pobreza e conflitos.

No entanto, mesmo diante das dificuldades, a desertificação traz oportunidades para a região. O solo de Gilbués, apesar de ser facilmente erodível, possui características ideais para a agricultura, como a presença de fósforo e argila. Os agricultores locais têm obtido resultados positivos com a proteção da vegetação nativa, a irrigação por gotejamento, a piscicultura e a técnica de cultivo em terraços agrícolas.

O presidente do grupo SOS Gilbués, Fabriciano Corado, destaca a importância da tecnologia aliada à conservação para enfrentar a desertificação. Além disso, a região também possui potencial para a geração de energia solar, como evidenciado pela abertura de um parque solar com 2,2 milhões de painéis.

Apesar dos desafios enfrentados, os agricultores de Gilbués estão determinados a seguir em frente, buscando soluções criativas e aproveitando as oportunidades que surgem. Com a combinação adequada de conservação e tecnologia, eles acreditam que podem superar as dificuldades e garantir um futuro sustentável para a região.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo